Escrevi esse texto no dia 12 de janeiro de 2009, depois de já ter frequentado muito hospital nos poucos dias daquele ano, com minha mãe e meu avô, sem nem saber que ainda eu, minha avó e meu pai também entraríamos na faca. Reproduzi essa mensagem para o Ano Novo de 2010. E ainda hoje é a história de Ano Novo que mais me marca, ainda mais depois dos meses que passei em Bissau. É por isso que vou repeti-la. Os votos para o Ano Novo são os mesmos. Só vou mudar as fotos, acrescentando imagens deste ano no Brasil e em Guiné-Bissau. As imagens mostram olhares e momentos que vão ficar para sempre comigo, lembranças de dias felizes em 2010.
Aí vai o texto:
Queria lembrar de uma historinha de fim de ano que me marcou muito.
No final de 2003, morava em Beira, Moçambique, e fui passar o Natal e o Ano Novo com meu namorado, Chris, no Malauí, onde ele estava morando. Parti com dor no coração quando me despedi das crianças do orfanato onde trabalhei. Também parti com a promessa de que, na volta, teria um programa na rádio mais ouvida da cidade. Enfim, parti. (Aliás, depois conto os perrengues da viagem de ônibus, trem, bicicleta para cruzar a fronteira)
Passei o Natal em Monkey Bay, no Malauí, com Chris, minha amiga húngara, Shari, e mais uma gringolândia (nem lembro da onde o pessoal era). Fiquei à beira do lago, lindo, com aquela lua que só vi em poucos lugares. É claro que não parecia Natal. Comi arroz com ovo frito, nada de confraternização e tal. Aquela coisa européia do norte sem graça num país pobre onde pouquíssimas pessoas celebram o Natal. Mas lá estava parte da minha família na África (Chris e Shari) e era isso que importava. A outra parte havia ficado em Moçambique, no orfanato, e isso me fez sentir saudades. Fiquei mesmo na dúvida se deveria ter ido ao Malauí ou ter ficado em Moçambique com meus menininhos.
Depois do Natal, Chris e eu pegamos o Ilala, que é um mini-navio que segue para o norte do lago Malauí. Foram três dias de viagem até chegarmos a Nhakata Bay. Outro paraíso malauiano.
Passamos a virada de 2003 para 2004 à beira do lago Malauí, a 12 horas de viagem de barco (um barquinho) rumo ao norte do país. Me vesti de branco e pulei sete ondinhas. Daí eu percebi como é bom ser brasileira ( e ter tradição!). É óbvio que eu era a única pessoa com pelo menos umas 15 simpatias na manga... haah. Foi um fim de ano sensacional, no meio do nada, natureza, um céu maravilhoso, um lago que eu nem sabia que existia, sem qualquer meio de comunicação, dormir na praia (de lago) com muita citronela para espantar o mosquito da malária... A volta para Yassini, onde Chris morava, também foi ótima! Ele viajou 14 horas em pé no corredor de um ônibus super lotado. Eu consegui lugar em cima de um saco de batatas (que deve ter virado purê depois da viagem). Coisas da vida, coisas de África! Banheiro no mato, à beira da estrada. Outra atração turística. Mas eu já estava esperta e tinha minhas táticas dos panos africanos.
Eis que volto para Moçambique com Shari (teve um perrengue na viagem também.... perdemos o ônibus!) e minha primeira parada, obviamente, foi no orfanato. Lá encontrei Cebolinha com um olhar triste, meio desconfiado. Peguei-o no colo e o coloquei sentado num murinho que segurava uma janela. Pedi para ele me abraçar: "Não vai abraçar a teacher?", perguntei. Daí ele me abraçou como havia me abraçado a primeira vez que conseguiu me dar um abraço (outra história que preciso contar aqui). Arnaldo, que também morava no orfanato, falou para mim: "Ele estava com medo de que a teacher havia esquecido dele e que não iria mais voltar." Isso cortou meu coração. Claro que ele tinha esse medo. Afinal, muitos voluntários e não-voluntáros vão para a África, vivem experiências maravilhosas, ficam marcados para o resto da vida e marcam os africanos que os conhecem também. O problema é que vários (ou será a maioria?) voltam para seus países de origem e nunca mais dão notícias. Manter contato é uma questão de respeito, na minha opinião - além de amizade, carinho, amor. É por isso que mantenho contato até hoje com todos os africanos que moram no meu coração e que fizeram e fazem parte da minha vida ontem, hoje e sempre.
O abraço de Cebola fez com que ele retomasse a confiança em mim. Aqueles minutinhos também me ensinaram muito mais. Cebola me contou que tomou refresco (refrigerante) no Natal e que comeu carne (de carneiro). Um luxo para ele que, diga-se de passagem, é bom de garfo como a teacher. Perguntei para Arnaldo como havia sido o fim do ano. Ele me disse: "Foi bom. Ninguém morreu, ninguém ficou doente!" E ouvir essas palavras de um cara órfão desde criança, que em 2003 devia ter em torno de uns 20 anos, foi uma grande lição de vida. E é isso que realmente importa: saúde!
Feliz 2011 para todos. Saúde! Saudades do meu povo.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Não partam a minha casa
Documentário denuncia violação do direito à habitação em Angola
Mais de quatro mil famílias desalojadas vivem no bairro de Bagdad, em Luanda, capital de Angola. Outras centenas viram suas casas serem partidas por tropas do governo provincial no Lubango, em Huíla, sem ao menos terem tempo de se instalarem adequadamente em outra morada. Os jovens que moram na feira do Compão, no Lobito, Benguela, temem perder suas casas. O documentário "Não partam a minha casa" retrata histórias de angolanos que de uma hora para outra viram suas casas partidas. Com elas, partiram-se os sonhos, os empregos, a dignidade. Partiram-se também as escolas, postos de saúde, as vendas de alimentos. Os desabrigados foram colocados em tendas, sem a menor infraestrutura.
Produzido pela brigada de jornalistas da Associação angolana Omunga, com sede na cidade de Lobito, e pela Open Society, em parceria com a ACC e a SOS Habitat, "Não partam a minha casa" faz parte de uma campanha da sociedade civil de Angola para denunciar e advogar pelo direito à habitação, um direito humano fundamental que dá alicerces para o exercício de vários outros direitos, como o direito à família, o direito a água e alimentação, o direito ao mais alto padrão possível de saúdes física e mental, dentre outros.
"Não partam a minha casa" traz à tona violações de direitos humanos que comprovam que Angola está longe de alcançar os Objectivos do Milénio estabelecidos pela ONU. Demonstra ainda a luta de activistas para evitar esses desalojamentos forçados, desde a assinatura da Declaração de Benguela, de agosto de 2009, à marcha pacífica "Não partam a minha", realizada em abril do ano seguinte na cidade de Benguela.
O recado está dado. Falta o governo fazer sua parte. "Não partam a minha casa."
Veja vídeo aqui.
Mais de quatro mil famílias desalojadas vivem no bairro de Bagdad, em Luanda, capital de Angola. Outras centenas viram suas casas serem partidas por tropas do governo provincial no Lubango, em Huíla, sem ao menos terem tempo de se instalarem adequadamente em outra morada. Os jovens que moram na feira do Compão, no Lobito, Benguela, temem perder suas casas. O documentário "Não partam a minha casa" retrata histórias de angolanos que de uma hora para outra viram suas casas partidas. Com elas, partiram-se os sonhos, os empregos, a dignidade. Partiram-se também as escolas, postos de saúde, as vendas de alimentos. Os desabrigados foram colocados em tendas, sem a menor infraestrutura.
Produzido pela brigada de jornalistas da Associação angolana Omunga, com sede na cidade de Lobito, e pela Open Society, em parceria com a ACC e a SOS Habitat, "Não partam a minha casa" faz parte de uma campanha da sociedade civil de Angola para denunciar e advogar pelo direito à habitação, um direito humano fundamental que dá alicerces para o exercício de vários outros direitos, como o direito à família, o direito a água e alimentação, o direito ao mais alto padrão possível de saúdes física e mental, dentre outros.
"Não partam a minha casa" traz à tona violações de direitos humanos que comprovam que Angola está longe de alcançar os Objectivos do Milénio estabelecidos pela ONU. Demonstra ainda a luta de activistas para evitar esses desalojamentos forçados, desde a assinatura da Declaração de Benguela, de agosto de 2009, à marcha pacífica "Não partam a minha", realizada em abril do ano seguinte na cidade de Benguela.
O recado está dado. Falta o governo fazer sua parte. "Não partam a minha casa."
Veja vídeo aqui.
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domingo, 28 de novembro de 2010
Quilombola brasileira revela emoção de primeira visita à África
Mirella Domenich, de Cacheu, para a BBC Brasil
Um grupo de quilombolas - descendentes dos escravos que fugiram de seus donos no Brasil e fundaram refúgios, os quilombos - está pela primeira vez na África para conhecer a terra de seus ancestrais.
A viagem, financiada pela ONG portuguesa Instituto Marques do Valle Flor e pela União Europeia, começou no último dia 17, em Guiné-Bissau, e termina em 2 de dezembro, em Cabo Verde.
A excursão faz parte do projeto "O Percurso dos Quilombos: da África para o Brasil e o Regresso às Origens". O grupo de viajantes é formado por 21 quilombolas brasileiros - todos do Maranhão - e cinco acompanhantes.
"O calor com o que nos acolheram deu a impressão de que já nos conhecíamos há milhares de anos, que realmente somos da mesma família", disse a lavradora e quilombola Maria José Palhano, 50 anos, sobre o contato com os africanos.
"Deu um sentimento de pertencimento, que realmente somos da mesma família e que fomos levados daqui", afirma ela, que é coordenadora da Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão (Aconeruq), ONG brasileira parceira do projeto.
Deu um sentimento de pertencimento, que realmente somos da mesma família e que fomos levados daqui.
Maria José Palhano, quilombola
De acordo com dados do Conselho Ultramarino, o Maranhão recebeu 31.563 escravos entre os anos de 1774 e 1799, quase metade deles vindos de Guiné-Bissau.
Partilha cultural
A pesquisadora e coordenadora do projeto no Brasil, Verônica Gomes, diz que o objetivo da viagem é de "descoberta e de partilha cultural", promovendo a proteção, valorização e difusão da cultura quilombola.
"A demanda surgiu dos quilombolas brasileiros, que queriam conhecer suas raízes", afirma. "A memória, a oralidade, a territorialidade são princípios na vida dos quilombolas, e isso estará registrado para sempre."
Palhano identificou nos rostos, no gosto da comida, na hospitalidade e na "alegria de viver, mesmo em horas difíceis" as similaridades entre africanos e os brasileiros afrodescendentes.
A visita, segundo ela, veio para reforçar esses laços e essa identidade, assim como para mostrar outras influências que ela ainda não havia notado, como no modo de trabalho.
A cidade de Cacheu preserva o forte e o porto de onde saíram escravos com destino ao Maranhão. Foto: Mirella Domenich
Guineense participa de espetáculo de dança durante visita de brasileiros
"Nós trabalhamos em mutirão e percebemos que isso vem daqui, pois nas roças por onde passamos, a forma de trabalho é a mesma, as pessoas se ajudam umas às outras", afirma.
A visita a Guiné-Bissau começou por Cacheu, no noroeste do pais. A cidade preserva o forte e o porto de onde saíram escravos com destino ao Maranhão, via Cabo Verde.
Os quilombolas visitaram também diversas tabankas, como são chamadas as comunidades rurais na língua crioula de Guiné-Bissau.
Também foram realizadas apresentações culturais, tanto de etnias guineenses quanto dos quilombolas, ao longo da semana em que os brasileiros estiveram no país.
Música e culinária
Para Álvaro Santos, 50 anos, que dirigiu o espetáculo, o tambor de crioula – dança de origem africana celebrada no Brasil em louvor a São Benedito, padroeiro dos negros no Maranhão - é o traço mais marcante da cultura entre os dois povos.
"Ate hoje, seja em uma comunidade quilombola como em uma tabanka guineense, o som do tambor e usado para reunir as pessoas, para celebrar", afirma.
Apesar de não ser quilombola, Santos diz ter reafirmado nessa viagem sua identidade de afro-brasileiro. "O jeito, o modo, a cultura, e as manifestações culturais de modo geral estão em todos nós", diz. "Não precisei nascer no quilombo, mas precisei me aproximar deles para me sentir mais negro".
Outra identificação entre Cacheu e Maranhão surgiu pela culinária. O cuxá, prato típico maranhense, tem sua origem na Guiné-Bissau. No país africano, ele é conhecido como baguitche – exceto pela etnia mandinga, que usa o mesmo nome que no Brasil.
De acordo com dados do Conselho Ultramarino, o Maranhão recebeu 31.563 escravos entre os anos de 1774 e 1799, quase metade deles vindos de Guiné-Bissau. Foto: Mirella Domenich
Do porto de Cacheu, saíram milhares de escravos para o Brasil
"Essa é mais uma prova de que os mandingas estiveram por lá", diz o diretor-executivo da ONG guineense Ação para o Desenvolvimento (AD), Carlos Schwarz da Silva.
Emoção no porto
Para a "veterana" do grupo de quilombolas, Nielza Nascimento dos Santos, 69 anos, o momento mais emocionante foi chegar ao porto de Cacheu.
"Sempre ouvi falar dos meus antepassados, mas nunca tínhamos tido a oportunidade de chegar ate aqui. Agora vamos poder levar a historia para nossa comunidade, para nosso quilombo", diz. "Chorei bastante quando começaram a me contar como os escravos eram transportados para o Brasil."
Depois da visita dos quilombolas, o governo da Guiné-Bissau anunciou que, a partir do próximo ano, irá realizar, coincidentemente com a Semana da Consciência Negra no Brasil, um festival cultural em Cacheu, onde será criado também um memorial da escravatura.
Vários quilombolas relataram o desejo de receber os guineenses no Brasil e de manter contato. "Queremos também ajudá-los, já que a situação aqui é mais difícil do que no Brasil", afirma Palhano. "Lá, lutamos muito e temos água encanada, energia, escola. Aqui, ainda falta muita coisa."
Um grupo de quilombolas - descendentes dos escravos que fugiram de seus donos no Brasil e fundaram refúgios, os quilombos - está pela primeira vez na África para conhecer a terra de seus ancestrais.
A viagem, financiada pela ONG portuguesa Instituto Marques do Valle Flor e pela União Europeia, começou no último dia 17, em Guiné-Bissau, e termina em 2 de dezembro, em Cabo Verde.
A excursão faz parte do projeto "O Percurso dos Quilombos: da África para o Brasil e o Regresso às Origens". O grupo de viajantes é formado por 21 quilombolas brasileiros - todos do Maranhão - e cinco acompanhantes.
"O calor com o que nos acolheram deu a impressão de que já nos conhecíamos há milhares de anos, que realmente somos da mesma família", disse a lavradora e quilombola Maria José Palhano, 50 anos, sobre o contato com os africanos.
"Deu um sentimento de pertencimento, que realmente somos da mesma família e que fomos levados daqui", afirma ela, que é coordenadora da Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão (Aconeruq), ONG brasileira parceira do projeto.
Deu um sentimento de pertencimento, que realmente somos da mesma família e que fomos levados daqui.
Maria José Palhano, quilombola
De acordo com dados do Conselho Ultramarino, o Maranhão recebeu 31.563 escravos entre os anos de 1774 e 1799, quase metade deles vindos de Guiné-Bissau.
Partilha cultural
A pesquisadora e coordenadora do projeto no Brasil, Verônica Gomes, diz que o objetivo da viagem é de "descoberta e de partilha cultural", promovendo a proteção, valorização e difusão da cultura quilombola.
"A demanda surgiu dos quilombolas brasileiros, que queriam conhecer suas raízes", afirma. "A memória, a oralidade, a territorialidade são princípios na vida dos quilombolas, e isso estará registrado para sempre."
Palhano identificou nos rostos, no gosto da comida, na hospitalidade e na "alegria de viver, mesmo em horas difíceis" as similaridades entre africanos e os brasileiros afrodescendentes.
A visita, segundo ela, veio para reforçar esses laços e essa identidade, assim como para mostrar outras influências que ela ainda não havia notado, como no modo de trabalho.
A cidade de Cacheu preserva o forte e o porto de onde saíram escravos com destino ao Maranhão. Foto: Mirella Domenich
Guineense participa de espetáculo de dança durante visita de brasileiros
"Nós trabalhamos em mutirão e percebemos que isso vem daqui, pois nas roças por onde passamos, a forma de trabalho é a mesma, as pessoas se ajudam umas às outras", afirma.
A visita a Guiné-Bissau começou por Cacheu, no noroeste do pais. A cidade preserva o forte e o porto de onde saíram escravos com destino ao Maranhão, via Cabo Verde.
Os quilombolas visitaram também diversas tabankas, como são chamadas as comunidades rurais na língua crioula de Guiné-Bissau.
Também foram realizadas apresentações culturais, tanto de etnias guineenses quanto dos quilombolas, ao longo da semana em que os brasileiros estiveram no país.
Música e culinária
Para Álvaro Santos, 50 anos, que dirigiu o espetáculo, o tambor de crioula – dança de origem africana celebrada no Brasil em louvor a São Benedito, padroeiro dos negros no Maranhão - é o traço mais marcante da cultura entre os dois povos.
"Ate hoje, seja em uma comunidade quilombola como em uma tabanka guineense, o som do tambor e usado para reunir as pessoas, para celebrar", afirma.
Apesar de não ser quilombola, Santos diz ter reafirmado nessa viagem sua identidade de afro-brasileiro. "O jeito, o modo, a cultura, e as manifestações culturais de modo geral estão em todos nós", diz. "Não precisei nascer no quilombo, mas precisei me aproximar deles para me sentir mais negro".
Outra identificação entre Cacheu e Maranhão surgiu pela culinária. O cuxá, prato típico maranhense, tem sua origem na Guiné-Bissau. No país africano, ele é conhecido como baguitche – exceto pela etnia mandinga, que usa o mesmo nome que no Brasil.
De acordo com dados do Conselho Ultramarino, o Maranhão recebeu 31.563 escravos entre os anos de 1774 e 1799, quase metade deles vindos de Guiné-Bissau. Foto: Mirella Domenich
Do porto de Cacheu, saíram milhares de escravos para o Brasil
"Essa é mais uma prova de que os mandingas estiveram por lá", diz o diretor-executivo da ONG guineense Ação para o Desenvolvimento (AD), Carlos Schwarz da Silva.
Emoção no porto
Para a "veterana" do grupo de quilombolas, Nielza Nascimento dos Santos, 69 anos, o momento mais emocionante foi chegar ao porto de Cacheu.
"Sempre ouvi falar dos meus antepassados, mas nunca tínhamos tido a oportunidade de chegar ate aqui. Agora vamos poder levar a historia para nossa comunidade, para nosso quilombo", diz. "Chorei bastante quando começaram a me contar como os escravos eram transportados para o Brasil."
Depois da visita dos quilombolas, o governo da Guiné-Bissau anunciou que, a partir do próximo ano, irá realizar, coincidentemente com a Semana da Consciência Negra no Brasil, um festival cultural em Cacheu, onde será criado também um memorial da escravatura.
Vários quilombolas relataram o desejo de receber os guineenses no Brasil e de manter contato. "Queremos também ajudá-los, já que a situação aqui é mais difícil do que no Brasil", afirma Palhano. "Lá, lutamos muito e temos água encanada, energia, escola. Aqui, ainda falta muita coisa."
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sábado, 20 de novembro de 2010
Dia da Consciência Negra
Porto de onde foram levados vários guineenses como escravos para o Brasil
Hoje é Dia da Consciência Negra. Mas o que será o Dia da Consciência Negra?
Será o dia em que eu me lembro da primeira vez que pisei em África, em Joanesburgo, e vi o apartheid ainda lá?
Será o dia que eu conheci o Cebolinha, quando ele havia saído do hospital?
Será o dia em que eu me deparei com o Zeto lá em São Paulo na sala da Conectas, ou quando dois anos mais tarde, ele estava lá em sua sala na Omunga, no Lobito?
Será o dia em que eu ouvi Vinícius, o branco mais preto do Brasil?
Será o dia em que me chamaram de vermelha?
Será o dia da matapa lá em casa, em Brasília?
Será o dia em que eu ouvi The Market Place, de Hugh Masakela?
Será aquele 13 de março no qual eu me juntei aos rappers da Cidade Tiradentes em passeata pelo centro de São Paulo?
Será o dia em que eu li sobre a lenda do embondeiro, aquele dia em que fui ao museu da escravatura, em Luanda, o dia que fui para Xique Xique de Igatu?
Será o dia em que Nelson Triunfo e mais de 50 hip hoppers lotaram o auditório da faculdade, ou mesmo no dia do lançamento de Hip Hop - a Periferia Grita?
Será hoje, 20 de Novembro de 2010, quando fui para Cacheu, na Guiné-Bissau, no festival Quilombola?
O Dia da Consciência Negra é dia de resistência, de luta, de ideais. O Dia da Consciência Negra está em mim todo dia!
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Fantástico exibe matéria sobre tráfico de drogas
Na edição de domingo do Fantástico, foi exibida uma matéria sobre as mulas do tráfico - mulheres, principalmente de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, que transportam drogas.
Confira no link: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1630183-15605,00-PRESA+REVELA+QUE+AJUDOU+TRAFICANTE+DEPOIS+QUE+ELE+SEQUESTROU+SEU+FILHO.html
Confira no link: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1630183-15605,00-PRESA+REVELA+QUE+AJUDOU+TRAFICANTE+DEPOIS+QUE+ELE+SEQUESTROU+SEU+FILHO.html
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Deu no Le Monde!
Guinée-Bissau: la télévision nationale, en panne, n'émet plus depuis 4 mois
La télévision nationale de Guinée-Bissau (TVGB), la seule du pays, en panne d'émetteurs et dont le personnel est resté plusieurs mois sans salaire, n'émet plus depuis quatre mois.
"Nous sommes à l'arrêt depuis juillet pour une panne d'émetteurs", a déclaré à l'AFP le directeur de la télévision d'Etat, Eusébio Nunes.
Selon lui, la TVGB, créée en 1989, souffre de plusieurs maux dont la vétusté du matériel et des locaux mal entretenus.
Ses journalistes travaillent avec deux caméras dont l'une est en panne, une seule table de montage, n'ont pas de véhicule de reportage.
Le personnel, formé d'une centaine de journalistes, techniciens et agents administratifs, réclame plusieurs mois d'arriérés de salaires, des primes et de meilleures conditions de travail.
"Un journaliste touche 63.000 FCFA (environ 90 euros) par mois alors qu'un sac de riz de 50 kg coûte aujourd'hui 20.000 FCFA (30,4 euros), le tiers de son salaire. Comment voulez-vous que nous soyons motivés ? ", s'est interrogé José Banjaqui, caméraman.
"Nous sommes fatigués de nous plaindre auprès des autorités", a déclaré Sibiti Camara, rédacteur en chef et présentateur vedette.
"Personne ne s'intéresse à notre station car le Premier ministre a sa propre équipe de reportage qui couvre ses sorties aussi bien à l'extérieur qu'à l'intérieur du pays. Il en est de même pour le président de la République. Dans une telle situation, à quoi sert la télévision nationale?", a-t-il affirmé.
Le gouvernement angolais, dont une équipe technique a visité le pays la semaine dernière "pour faire un diagnostic complet des besoins", a promis de trouver une solution "dans les meilleurs délais", selon un communiqué officiel.
"Regardez sur les toits des maisons. Il y a partout des antennes paraboliques. Les Bissau-Guinéens ne regardent pas leur télévision qui ne marche pas", a noté Quintino Djassi, propriétaire d'une salle vidéo dans un quartier populaire de la capitale.
Selon une étude de l'Institut national de communication publiée en 2006, la Guinée-Bissau, dont la population est de 1,5 millions d'habitants, comptait 12.000 postes de télévisions, dont 7.000 dans la capitale.
La télévision nationale de Guinée-Bissau (TVGB), la seule du pays, en panne d'émetteurs et dont le personnel est resté plusieurs mois sans salaire, n'émet plus depuis quatre mois.
"Nous sommes à l'arrêt depuis juillet pour une panne d'émetteurs", a déclaré à l'AFP le directeur de la télévision d'Etat, Eusébio Nunes.
Selon lui, la TVGB, créée en 1989, souffre de plusieurs maux dont la vétusté du matériel et des locaux mal entretenus.
Ses journalistes travaillent avec deux caméras dont l'une est en panne, une seule table de montage, n'ont pas de véhicule de reportage.
Le personnel, formé d'une centaine de journalistes, techniciens et agents administratifs, réclame plusieurs mois d'arriérés de salaires, des primes et de meilleures conditions de travail.
"Un journaliste touche 63.000 FCFA (environ 90 euros) par mois alors qu'un sac de riz de 50 kg coûte aujourd'hui 20.000 FCFA (30,4 euros), le tiers de son salaire. Comment voulez-vous que nous soyons motivés ? ", s'est interrogé José Banjaqui, caméraman.
"Nous sommes fatigués de nous plaindre auprès des autorités", a déclaré Sibiti Camara, rédacteur en chef et présentateur vedette.
"Personne ne s'intéresse à notre station car le Premier ministre a sa propre équipe de reportage qui couvre ses sorties aussi bien à l'extérieur qu'à l'intérieur du pays. Il en est de même pour le président de la République. Dans une telle situation, à quoi sert la télévision nationale?", a-t-il affirmé.
Le gouvernement angolais, dont une équipe technique a visité le pays la semaine dernière "pour faire un diagnostic complet des besoins", a promis de trouver une solution "dans les meilleurs délais", selon un communiqué officiel.
"Regardez sur les toits des maisons. Il y a partout des antennes paraboliques. Les Bissau-Guinéens ne regardent pas leur télévision qui ne marche pas", a noté Quintino Djassi, propriétaire d'une salle vidéo dans un quartier populaire de la capitale.
Selon une étude de l'Institut national de communication publiée en 2006, la Guinée-Bissau, dont la population est de 1,5 millions d'habitants, comptait 12.000 postes de télévisions, dont 7.000 dans la capitale.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Finalmente um banho
Ontem eu também fui a uma escola em construção para fazer algumas fotos. Na volta para o escritório, um dos meus colegas me pergunta se eu me incomodaria em passar na casa dele para ele pegar o carregador do celular. Para lá fomos. Fiquei a esperar no carro.
Depois de uns dez minutos ele volta com um sorriso gigante, desses que só o contraste da pele negra com os dentes brancos pode criar:
- Desculpa lá. Estava sem água há quatro dias. Hoje a água chegou. Faz quatro dias que não tomo banho direito. Podem ir para o escritório que eu vou ficar aqui. Quero tomar banho!
- Risos e mais risos.
- Viver na Guiné é assim!
Voltei para o escritório e ele deve ter secado a água de tanto banhar-se. Sabe-se lá quando vai conseguir tomar banho de novo, né.
Depois de uns dez minutos ele volta com um sorriso gigante, desses que só o contraste da pele negra com os dentes brancos pode criar:
- Desculpa lá. Estava sem água há quatro dias. Hoje a água chegou. Faz quatro dias que não tomo banho direito. Podem ir para o escritório que eu vou ficar aqui. Quero tomar banho!
- Risos e mais risos.
- Viver na Guiné é assim!
Voltei para o escritório e ele deve ter secado a água de tanto banhar-se. Sabe-se lá quando vai conseguir tomar banho de novo, né.
Assinatura de jornais
Ontem fui fazer a assinatura de alguns jornais locais. Não há jornal diário no país, apenas semanários que, diga-se de passagem, às vezes falham.
Mas, enfim, lá fui eu, pois sou brasileira e não desisto nunca.
Primeiro jornal: portas fechadas.
Segundo jornal: não consegui uma factura pro-forma. Motivo: não havia energia para imprimir. E eu na inocência: mas pode ser a mao. Resposta: nao tenho caneta!
Terceiro jornal: só amanhã de manhã.
Conclusão: comprei um rádio e começo minhas aulas de crioulo amanhã.
Mas, enfim, lá fui eu, pois sou brasileira e não desisto nunca.
Primeiro jornal: portas fechadas.
Segundo jornal: não consegui uma factura pro-forma. Motivo: não havia energia para imprimir. E eu na inocência: mas pode ser a mao. Resposta: nao tenho caneta!
Terceiro jornal: só amanhã de manhã.
Conclusão: comprei um rádio e começo minhas aulas de crioulo amanhã.
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domingo, 10 de outubro de 2010
Futebol
O time de futebol da Guiné-Bissau treina em Portugal.
Ontem GB jogou contra Angola, em Luanda.
O governo de Angola enviou um avião para buscar a equipe de futebol de GB.
Como a TV local não está funcionando há mais de três meses por falta de uma peça, o único canal que transmitiu o jogo foi a TPA, de Angola, que, nao estava a pegar no lugar onde eu estava.
Resultado 1 x 0 para Angola.
Menos mal: a equipe de GB tem carona de volta garantida. Imagina se tivesse ganho!
Ontem GB jogou contra Angola, em Luanda.
O governo de Angola enviou um avião para buscar a equipe de futebol de GB.
Como a TV local não está funcionando há mais de três meses por falta de uma peça, o único canal que transmitiu o jogo foi a TPA, de Angola, que, nao estava a pegar no lugar onde eu estava.
Resultado 1 x 0 para Angola.
Menos mal: a equipe de GB tem carona de volta garantida. Imagina se tivesse ganho!
domingo, 3 de outubro de 2010
Eleições encerradas na Guiné-Bissau
Opa, estou a falar das eleições brasileiras.
Dos 108 eleitores registrados, apenas 49 compareceram. O resultado é o seguinte:
Marina: 22
Dilma: 18
Serra: 7
Plínio: 1
Nulo: 1
É a primeira vez que a eleição é eletrônica aqui. Muitos dos brasileiros que vieram votar não sabiam quem eram os candidatos, pois, principalmente para aqueles que vivem no interior do país, é praticamente impossível acessar a internet. Também foi a primeira vez que muitos votaram com urna eletrônica.
Sem conhecer ao certo os candidatos e muito menos a proposta deles, talvez a vitória da Marina seja reflexo dos votos da comunidade evangélica que vive aqui. Talvez. Isso é minha suposição.
Dos 108 eleitores registrados, apenas 49 compareceram. O resultado é o seguinte:
Marina: 22
Dilma: 18
Serra: 7
Plínio: 1
Nulo: 1
É a primeira vez que a eleição é eletrônica aqui. Muitos dos brasileiros que vieram votar não sabiam quem eram os candidatos, pois, principalmente para aqueles que vivem no interior do país, é praticamente impossível acessar a internet. Também foi a primeira vez que muitos votaram com urna eletrônica.
Sem conhecer ao certo os candidatos e muito menos a proposta deles, talvez a vitória da Marina seja reflexo dos votos da comunidade evangélica que vive aqui. Talvez. Isso é minha suposição.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Pelo celular
Antes de vir para Bissau, tive que desativar a minha internet Claro 3G. Que inferno!!!! Ninguém merece ter que entrar em uma loja da Claro.
Nesse meio tempo, minha irmã tinha alguns pontos para comprar um outro celular, que no caso é o aparelho que trouxe para cá. Fomos na loja da Vivo. Que inferno!!!! Ninguém merece ter que entrar em uma loja da Vivo. Não era pra cancelar nada, era pra comprar e o trampo foi o mesmo.
No meu primeiro dia em Bissau falei com o motorista que precisaria comprar um número de celular. Ele simplesmente parou o carro, alguns meninos se aproximaram, dei o dinheiro, eles me deram o número e os créditos do celular. Tudo não demorou mais do que 30 segundos.
É só para registrar como é muiiiiiiiiiiiiiiito mais fácil ter acesso a um celular aqui. E imagino que esse seja um padrão para o continente, já que nos outros cinco países onde estive, o processo foi sempre simples. O saco sempre foi desbloquear o celular do Brasil, na época em que isso era bem complicado fazer por aí.
E outra coisa: como somos roubados no Brasil com os preços abusivos das ligações! My God! Acabei de falar 28 minutos, ligação de celular para celular aqui, e gastei menos de 1000 CFA, o equivalente a uns R$ 3,50.
Só para desabafar!
Nesse meio tempo, minha irmã tinha alguns pontos para comprar um outro celular, que no caso é o aparelho que trouxe para cá. Fomos na loja da Vivo. Que inferno!!!! Ninguém merece ter que entrar em uma loja da Vivo. Não era pra cancelar nada, era pra comprar e o trampo foi o mesmo.
No meu primeiro dia em Bissau falei com o motorista que precisaria comprar um número de celular. Ele simplesmente parou o carro, alguns meninos se aproximaram, dei o dinheiro, eles me deram o número e os créditos do celular. Tudo não demorou mais do que 30 segundos.
É só para registrar como é muiiiiiiiiiiiiiiito mais fácil ter acesso a um celular aqui. E imagino que esse seja um padrão para o continente, já que nos outros cinco países onde estive, o processo foi sempre simples. O saco sempre foi desbloquear o celular do Brasil, na época em que isso era bem complicado fazer por aí.
E outra coisa: como somos roubados no Brasil com os preços abusivos das ligações! My God! Acabei de falar 28 minutos, ligação de celular para celular aqui, e gastei menos de 1000 CFA, o equivalente a uns R$ 3,50.
Só para desabafar!
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Vou de táxi!
Confesso que algumas das imagens que me deram um certo alívio quando dei aquele google básico para ver como Bissau é, foram as fotos que traziam imagens de táxis. Sim, não dos táxis de Angola, como as lotações são conhecidas por lá. Mas dos táxis como os conhecemos no Brasil. Pensei comigo mesma: ufa, se tiver perrengue, pego um táxi.
Quando morei na Beira, em Moçambique, em 2003, nunca peguei um táxi. Naquela época, não existia esse serviço. Em 2009, quando por lá voltei para passar as férias, já haviam carros particulares que mesmo sem se identificarem como táxis, prestavam o serviço de táxi. No Malawi também não me lembro dessa miragem mágica: ver um táxi na rua. Em 2006, em Luanda, em Angola, tinha o Maicon táxi (acho que era esse o nome). O preço era absurdo e a gente nunca sabia se o táxi vinha ou não. Na mesma época, não me lembro de ter visto táxi no Lobito, só em Benguela. Já em 2008, não encontrei o Maicon táxi pela ruas. Não sei se desapareceram ou se foi falta de sorte.
Aqui em Bissau, o táxi funciona como lotação. Mas funciona. Há vários pelas ruas, ao preço médio de 200 CFA, o equivalente a uns R$ 0,80. Hoje voltei à noite para casa e liguei para um dos taxistas de confiança do pessoal da embaixada do Brasil. Serviço de porta a porta, por 500 CFA. Conclusão: é possível sair de casa depois das 19h, quando escurece em Bissau, sem ter carro. Nusssssssssssssss, que alívio!
Quando morei na Beira, em Moçambique, em 2003, nunca peguei um táxi. Naquela época, não existia esse serviço. Em 2009, quando por lá voltei para passar as férias, já haviam carros particulares que mesmo sem se identificarem como táxis, prestavam o serviço de táxi. No Malawi também não me lembro dessa miragem mágica: ver um táxi na rua. Em 2006, em Luanda, em Angola, tinha o Maicon táxi (acho que era esse o nome). O preço era absurdo e a gente nunca sabia se o táxi vinha ou não. Na mesma época, não me lembro de ter visto táxi no Lobito, só em Benguela. Já em 2008, não encontrei o Maicon táxi pela ruas. Não sei se desapareceram ou se foi falta de sorte.
Aqui em Bissau, o táxi funciona como lotação. Mas funciona. Há vários pelas ruas, ao preço médio de 200 CFA, o equivalente a uns R$ 0,80. Hoje voltei à noite para casa e liguei para um dos taxistas de confiança do pessoal da embaixada do Brasil. Serviço de porta a porta, por 500 CFA. Conclusão: é possível sair de casa depois das 19h, quando escurece em Bissau, sem ter carro. Nusssssssssssssss, que alívio!
sábado, 25 de setembro de 2010
Cuidado, cuidado, cuidado
As coisas que eu mais ouvi quando contei para as pessoas no Brasil que viria para Guiné-Bissau foram:
- Cuidado!
- Você está louca.
Sim, todo mundo pediu para eu tomar cuidado. Acho que é natural, isso aconteceu quando eu fui para os EUA ou para a Europa. Mas a preocupação perante à África é sempre maior. É a preocupação com o desconhecido - essa gente não deve ter lido Minha Vida na África...rs. Afinal, nós, brasileiros, pouco conhecemos a África, apesar de nossa história ter se cruzado em vários momentos.
Geralmente eu sempre digo: cuidado eu tenho que ter para andar em São Paulo! E isso é uma grande verdade. No sábado passado fiz minha primeira caminhada pelas ruas de Bissau, sozinha, botinha de bióloga para driblar os obstáculos das ruas, olhares atentos. A sensação foi maravilhosa. Munida de minha maquininha fotográfica fiz algumas fotos. Ninguém me perturbou. Ninguém reclamou. Ninguém tentou me roubar. Tive uma sensação de liberdade grande, só possível quando eu sinto segurança. E estava eu em Bissau, muito mais segura do que em São Paulo.
Não. Não sou louca. Isso é fato!
Aqui seguem algumas primeiras imagens que fiz.
Obs.: Piadinha que corre na boca pequena: Bissau é a capital mais tranquila da África, o único problema é que tem golpe de estado duas vezes aos ano!
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Primeiras impressões
Hoje é Dia da Independência na Guiné-Bissau. Comemoração pública? Muito pouca coisa. Até onde eu sei não foi feito nada em Bissau, mas fui a Quinhamel, a 30km daqui, com um colega jornalista. Ouvi o discurso da secretária do Primeiro-Ministro, pois nem ele nem o presidente estão por aqui. Estão na China, em visita de trabalho.
É feriado, mas poderia não ser. Eu não trabalhei hoje, mas o comércio abriu normalmente e os vendedores ambulantes também trabalharam. Quando falta tudo, não se pode ter o privilégio de não trabalhar em um feriado.
Aqui segue um pequeno filminho com as primeiras imagens.
É feriado, mas poderia não ser. Eu não trabalhei hoje, mas o comércio abriu normalmente e os vendedores ambulantes também trabalharam. Quando falta tudo, não se pode ter o privilégio de não trabalhar em um feriado.
Aqui segue um pequeno filminho com as primeiras imagens.
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quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Fazendo amigos
Hoje tive a oportunidade de conhecer o primeiro guineense fora da ONU. O nome dele é Bacar. Ele estudou direitos humanos no Brasil há dois anos, em um intercâmbio promovido pela ONG Conectas. Conversamos bwé e foi muito bom visitar a história de Guiné-Bissau por meio de seus ensinamentos.
Queria apenas registrar essa oportunidade, nessa terra que pela primeira vez pra mim em África é uma terra ainda de kubens e de azungos (brancos em língua kayapó e chichewa). Em Moçambique e Angola minhas referências de amizades sempre foram moçambicanos e angolanos. Agora o caminho está sendo pela contramão, mas os guineenses que me aguardem! rs
Queria apenas registrar essa oportunidade, nessa terra que pela primeira vez pra mim em África é uma terra ainda de kubens e de azungos (brancos em língua kayapó e chichewa). Em Moçambique e Angola minhas referências de amizades sempre foram moçambicanos e angolanos. Agora o caminho está sendo pela contramão, mas os guineenses que me aguardem! rs
Quem mexeu no meu chocolate?
Dessa vez, o título é em alusão ao post abaixo Quem mexeu no meu queijo?, pois a história se repete, como no diálogo abaixo:
- Nossa, as vezes nao tem chocolate no pais...
- Outro dia comprei um chocolate e, faltando as duas ultimas barrinhas...
- As lagrimas escorreram pelo seu rosto?
- Nao, tinha traça.
(pausa para risos)
- Hoje fui ao mercado e vi dois tipos de chocolate a venda. Nao conhecia a marca, mas quase te liguei pra avisar.
- Devem ser os mauritanos. Mas eu consegui comprar chocolate de marca conhecida hoje em outro supermercado.
(olhos brilhando)
- Vi uma prateleira com tres saquinhos daqueles mini-Mars, conhece?
- Loooooogico!
- Nossa, devem ser os unicos tres saquinhos do pais. Nao comprei deles, mas tinha um milka... (acho que era milka, nao me lembro, mas era marca conhecida). Comi tudo!
Em tempo: por obra do destino, ainda nao tive vontade de comer chocolate aqui. E por obra do calor, preferi nao montar um estoque. Espero apenas encontrar chocolate quando a vontade bater e poder gritar por todo lado: quem mexeu no meu chocolate?
- Nossa, as vezes nao tem chocolate no pais...
- Outro dia comprei um chocolate e, faltando as duas ultimas barrinhas...
- As lagrimas escorreram pelo seu rosto?
- Nao, tinha traça.
(pausa para risos)
- Hoje fui ao mercado e vi dois tipos de chocolate a venda. Nao conhecia a marca, mas quase te liguei pra avisar.
- Devem ser os mauritanos. Mas eu consegui comprar chocolate de marca conhecida hoje em outro supermercado.
(olhos brilhando)
- Vi uma prateleira com tres saquinhos daqueles mini-Mars, conhece?
- Loooooogico!
- Nossa, devem ser os unicos tres saquinhos do pais. Nao comprei deles, mas tinha um milka... (acho que era milka, nao me lembro, mas era marca conhecida). Comi tudo!
Em tempo: por obra do destino, ainda nao tive vontade de comer chocolate aqui. E por obra do calor, preferi nao montar um estoque. Espero apenas encontrar chocolate quando a vontade bater e poder gritar por todo lado: quem mexeu no meu chocolate?
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Cerrado em fotos
O tema deste post não é diretamente ligado à África, mas indiretamente. É sobre a exposição fotográfica "A recriação do olhar sobre o Cerrado baiano", que teve sua estreia mundial na semana passada em Salvador e que amanhã estará em Camaçari (BA). O Cerrado é a savana brasileira, segundo maior bioma do país e hoje extremamente ameaçado. E como não poderia ser diferente, a Bahia é provavelmente o mais africanos dos estados brasileiros.
Sobre a expo: Dividida em cinco eixos temáticos – a biodiversidade, o ser humano, a comida, a água e o clima – a mostra é resultado de uma oficina de fotografia, seguida por uma expedição pelo extremo Oeste da Bahia realizada em maio deste ano. Na ocasião, 18 moradores locais produziram mais de sete mil cliques ao longo de 900 km rodados entre os municípios de Barreiras, Luis Eduardo Magalhães, São Desidério, Formosa do Rio Preto e Santa Rita de Cássia. O olhar de fotógrafos da natureza, como Adriano Gambarini e Luciano Candisani, também será contemplado pela exposição. O evento expõe vídeos com relatos da própria população da região acerca do Cerrado, assim como dos fotógrafos. Painéis removíveis proporcionam ao visitante uma maior interação com as imagens da região.
A mostra faz parte das ações do programa Produzir e Conservar, uma parceria entre a ONG Conservação Internacional e a Monsanto, implementada localmente pela ONG Bioeste.
Tive o prazer de fazer a curadoria dessa mostra e participar de toda a sua concepção ao lado do meu amigo Hebert Regis, da ONG Bioeste. Para mais informações, acesse www.conservacao.org ou www.bioeste.org.br. Vale a pena conferir.
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domingo, 19 de setembro de 2010
Quem mexeu no meu queijo?
Quem mexeu no meu queijo?
O nome é de um livro de auto-ajuda. A lembrança que ele me traz é da minha mãe. Não pela auto-ajuda, mas pelo queijo. Ela é, sem dúvida, uma das maiores devoradoras de queijos que conheço. Mas, enfim, aqui em Bissau ela sofreria muito. Falta queijo no país.
Na sexta-feira, fui à embaixada do Brasil e ouvi o seguinte diálogo:
- Ta faltando queijo no país, sabia?
- Sim. Parece que também não tem leite.
- Ah, é?
- É. E já teve dias que tentei comprar tomate e cebola e não encontrei.
- Hmm. O pior é que não é que não encontrou em um lugar e vai encontrar em outro. Não havia tomate nem cebola no país inteiro.
Como praticamente tudo é importado na Guiné-Bissau, tudo depende da chegada de containeres no porto, das condições climáticas para o desembarque do container, do pagamento de 150% em impostos sobre os produtos. Esse último dado não é oficial. Foi o que o pessoal do diálogo acima me disse. De qualquer forma, os preços das coisas aqui são exorbitantes e há pouquíssima variedade.
Adoraria perguntar agora “quem mexeu no meu queijo”, mas, realmente, não há queijo no país, só o da foto mesmo.
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Em tempo: Hoje vi um container sendo descarregado em um mercado. De longe avistei um melão. Não vi queijo, mas espero que esteja guardado lá no fundinho.
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
A chegada em Bissau
- Mirella, Mirella....
Essas foram as primeiras palavras que ouvi quando cheguei em Bissau. Depois de 36 horas desde São Paulo, via Lisboa, estava eu de volta ao continente africano, em um país que nunca antes estivera.
Quando o piloto anuncia que o pouso estava autorizado, veio aquele arrepio. Não era medo, era emoção. Frio na barriga eu senti quando minha irmã atendeu o interfone lá em São Paulo, e me avisou que o táxi já estava lá embaixo. Mas agora era diferente. Já estava prestes a aterrar, como dizem por cá. Olhei pra baixo e nada vi. Claro, não há sistema de distribuição de energia elétrica a funcionar no país. Apenas senti quando o avião tocou o solo e daí vi algumas luzes na pista. Ufa! Não havia caído, era terra firme. Na hora me lembrei em situação semelhante vivida em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, quando o avião aterrou e saiu aquele balãozinho da minha cabeça: será que caiu?
Desci as escadas do avião com um sorriso que cruzava as orelhas e cujas pontas se encontravam lá na nuca. Confesso que tive vontade de beijar o chão. Mas não sou o papa, infelizmente! O pé direito foi o primeiro a pisar no solo de Bissau. Claaaaro, tinha que manter a tradição que descobri ser uma superstição. Depois entrei no ônibus, mais conhecido como autocarro, para ir até o galpão do aeroporto.
Lá chego e vejo várias pessoas esperando outras pessoas, antes da imigração. Achei estranho. Pensei “ferrou”. E continuei a caminhar. Ninguém me abordou, nem tentou “me ajudar” carregando a bagagem de mão, nem nada. Sensação ótima, mas estranha para quem já posou em outros aeroportos africanos e, diga-se de passagem, europeus.
Logo recebi um papel de imigração para preencher com meus dados. Escrevi e ouvi uma voz de longe a gritar: - Mirella, Mirella...
Pensei: não acredito que encontrei algum conhecido aqui. Mas não era um conhecido. Quem gritava era Cláudio*, motorista que fora me apanhar. Cláudio gritava aleatoriamente, na certeza de que eu o escutaria. Ele não tinha idéia de quem eu era. Na verdade, àquela altura, depois das já ditas 36 horas de viagem, eu me sentia meio estragada, com prazo de validade vencido. Carregava comigo o Fom (uma almofada super aconchegante feita de um material que se chama fom – ou a marca é fom?), com uma fronha azul celeste. Saí do avião abraçada ao meu fom companheiro, responsável por eu estar mexendo meu pescoço hoje. Se não fossem os cabelos brancos, eu me daria uns 15 anos. Devia estar parecendo uma adolescente depois de uma noite mal dormida, cujo pai a havia acordado cedo para o acompanhar na feira. Enfim, olhei através da cabine do oficial de imigração. Cabine feita em madeira escura até a altura da cintura, e depois de vidro, para que tanto imigrante quanto oficial possam se olhar. Acenei para Cláudio, que logo veio em minha direção dizendo: - “Ela está comigo, pode deixar passar”. O oficial olhou pra minha cara, carimbou meu passaporte, destacou o cartão de imigração e me devolveu uma das partes. Atrás dessa parte, os dizeres: “Guiné-Bissau, terra da biodiversidade”. Pensei: é destino mesmo. E cá estou.
Cláudio me deu boas vindas, me ajudou a pegar as malas, me indicou a saída para diplomatas e, enfim, cheguei em Bissau. Eram 2h30 da manhã. Não havia luz nas ruas, mas tinha uma sensação de segurança imensa. No caminho do aeroporto até minha acomodação, Cláudio falou coisas supersimpáticas e animadoras. Agradeceu por minha vinda, me desejou “boa vida” aqui. Enfim, foi um gentleman.
Por incrível que pareça, me senti no primeiríssimo mundo, pois Primeiro Mundo pra mim implica respeito entre as pessoas. A aparente cordialidade do povo da Guiné-Bissau contagia, agrada, motiva.
Ya, estamos juntos!
Em tempo: Na conexãozinha de 15 horas em Lisboa, comprei uma maquinha de filmar em uma loja chamada Worten. Quando fui para o hotel tentar dormir na horizontal, liguei a TV por curiosidade. A propaganda dizia algo como "Worten e os portugueses felizes para sempre". E complementava: "Worten sempre!"
Essas foram as primeiras palavras que ouvi quando cheguei em Bissau. Depois de 36 horas desde São Paulo, via Lisboa, estava eu de volta ao continente africano, em um país que nunca antes estivera.
Quando o piloto anuncia que o pouso estava autorizado, veio aquele arrepio. Não era medo, era emoção. Frio na barriga eu senti quando minha irmã atendeu o interfone lá em São Paulo, e me avisou que o táxi já estava lá embaixo. Mas agora era diferente. Já estava prestes a aterrar, como dizem por cá. Olhei pra baixo e nada vi. Claro, não há sistema de distribuição de energia elétrica a funcionar no país. Apenas senti quando o avião tocou o solo e daí vi algumas luzes na pista. Ufa! Não havia caído, era terra firme. Na hora me lembrei em situação semelhante vivida em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, quando o avião aterrou e saiu aquele balãozinho da minha cabeça: será que caiu?
Desci as escadas do avião com um sorriso que cruzava as orelhas e cujas pontas se encontravam lá na nuca. Confesso que tive vontade de beijar o chão. Mas não sou o papa, infelizmente! O pé direito foi o primeiro a pisar no solo de Bissau. Claaaaro, tinha que manter a tradição que descobri ser uma superstição. Depois entrei no ônibus, mais conhecido como autocarro, para ir até o galpão do aeroporto.
Lá chego e vejo várias pessoas esperando outras pessoas, antes da imigração. Achei estranho. Pensei “ferrou”. E continuei a caminhar. Ninguém me abordou, nem tentou “me ajudar” carregando a bagagem de mão, nem nada. Sensação ótima, mas estranha para quem já posou em outros aeroportos africanos e, diga-se de passagem, europeus.
Logo recebi um papel de imigração para preencher com meus dados. Escrevi e ouvi uma voz de longe a gritar: - Mirella, Mirella...
Pensei: não acredito que encontrei algum conhecido aqui. Mas não era um conhecido. Quem gritava era Cláudio*, motorista que fora me apanhar. Cláudio gritava aleatoriamente, na certeza de que eu o escutaria. Ele não tinha idéia de quem eu era. Na verdade, àquela altura, depois das já ditas 36 horas de viagem, eu me sentia meio estragada, com prazo de validade vencido. Carregava comigo o Fom (uma almofada super aconchegante feita de um material que se chama fom – ou a marca é fom?), com uma fronha azul celeste. Saí do avião abraçada ao meu fom companheiro, responsável por eu estar mexendo meu pescoço hoje. Se não fossem os cabelos brancos, eu me daria uns 15 anos. Devia estar parecendo uma adolescente depois de uma noite mal dormida, cujo pai a havia acordado cedo para o acompanhar na feira. Enfim, olhei através da cabine do oficial de imigração. Cabine feita em madeira escura até a altura da cintura, e depois de vidro, para que tanto imigrante quanto oficial possam se olhar. Acenei para Cláudio, que logo veio em minha direção dizendo: - “Ela está comigo, pode deixar passar”. O oficial olhou pra minha cara, carimbou meu passaporte, destacou o cartão de imigração e me devolveu uma das partes. Atrás dessa parte, os dizeres: “Guiné-Bissau, terra da biodiversidade”. Pensei: é destino mesmo. E cá estou.
Cláudio me deu boas vindas, me ajudou a pegar as malas, me indicou a saída para diplomatas e, enfim, cheguei em Bissau. Eram 2h30 da manhã. Não havia luz nas ruas, mas tinha uma sensação de segurança imensa. No caminho do aeroporto até minha acomodação, Cláudio falou coisas supersimpáticas e animadoras. Agradeceu por minha vinda, me desejou “boa vida” aqui. Enfim, foi um gentleman.
Por incrível que pareça, me senti no primeiríssimo mundo, pois Primeiro Mundo pra mim implica respeito entre as pessoas. A aparente cordialidade do povo da Guiné-Bissau contagia, agrada, motiva.
Ya, estamos juntos!
Em tempo: Na conexãozinha de 15 horas em Lisboa, comprei uma maquinha de filmar em uma loja chamada Worten. Quando fui para o hotel tentar dormir na horizontal, liguei a TV por curiosidade. A propaganda dizia algo como "Worten e os portugueses felizes para sempre". E complementava: "Worten sempre!"
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Chegou a hora!
Em doze horas deixo minha casinha em São Paulo rumo a Bissau. Na verdade, a essa hora eu deveria estar terminando de colocar umas cositas na mala, mas vou dar aquele intervalinho restaurador. Nusss, que desespero olhar pras malas.
Eu ia levar uma mala grande e uma pequenininha. Mas fui colocando as coisas e o total resultou em duas malas grandes, uma com uns 30kg e outra com uns 27kg. Ainda bem que não pesam o passageiro e, por isso, não pagarei excesso de bagagem...heheh
Mas, enfim, da primeira vez que fui pra África levei uma mala de 18kg. MAS, eu era sete anos mais nova, não ia trabalhar na ONU e achava que conseguiria comprar acetona por lá.
Hoje já passei dos trinta e por cinco países africanos. Nem lembro se tentei comprar acetona, mas já tentei comprar condicionador, por exemplo, e nem sempre encontrei. Ou comprar um queijo, ou água com gás, ou um refri light.... Não é em todo lugar que se encontra toda coisa.
Então resolvi montar meu kit primeiros socorros:
- liquidificador
- panelas
- talheres
- copão pro suco verde
- toalha que seca rápido (tem pouco algodão)
- CD com curso de canto
- alguns filmes
- kit Herbalife (tks, Crica!)
- impressorinha de fotos
- livro de francês
- bola de Pilates e sua bombinha]
- dois travesseiros
- bolinha de massagem
- cremes e mais cremes
- lixeira ecológica e poética
- fotos
- até um Fom tá lá
etc...
Bom, decidi: já que posso levar duas malas de 32kg cada, vou levar e montar uma casa lá com a minha cara. E o melhor é que depois de carregar isso tudo, vou ter seguro saúde, caso precise de um ortopedista...rs
Uma coisa é certa: sei que é possível viver sem tudo isso. A maioria da população de Guiné-Bissau provavelmente não terá na vida inteira o que eu estou levando nessas duas malas. Isso é cruel demais. Mas, de coração, espero que o que de mais valioso que estou levando, seja realmente transformador - que é a vontade de fazer acontecer e de que meu trabalho gere mesmo resultados que afetem positivamente a vida das pessoas.
Até Bisau!
Eu ia levar uma mala grande e uma pequenininha. Mas fui colocando as coisas e o total resultou em duas malas grandes, uma com uns 30kg e outra com uns 27kg. Ainda bem que não pesam o passageiro e, por isso, não pagarei excesso de bagagem...heheh
Mas, enfim, da primeira vez que fui pra África levei uma mala de 18kg. MAS, eu era sete anos mais nova, não ia trabalhar na ONU e achava que conseguiria comprar acetona por lá.
Hoje já passei dos trinta e por cinco países africanos. Nem lembro se tentei comprar acetona, mas já tentei comprar condicionador, por exemplo, e nem sempre encontrei. Ou comprar um queijo, ou água com gás, ou um refri light.... Não é em todo lugar que se encontra toda coisa.
Então resolvi montar meu kit primeiros socorros:
- liquidificador
- panelas
- talheres
- copão pro suco verde
- toalha que seca rápido (tem pouco algodão)
- CD com curso de canto
- alguns filmes
- kit Herbalife (tks, Crica!)
- impressorinha de fotos
- livro de francês
- bola de Pilates e sua bombinha]
- dois travesseiros
- bolinha de massagem
- cremes e mais cremes
- lixeira ecológica e poética
- fotos
- até um Fom tá lá
etc...
Bom, decidi: já que posso levar duas malas de 32kg cada, vou levar e montar uma casa lá com a minha cara. E o melhor é que depois de carregar isso tudo, vou ter seguro saúde, caso precise de um ortopedista...rs
Uma coisa é certa: sei que é possível viver sem tudo isso. A maioria da população de Guiné-Bissau provavelmente não terá na vida inteira o que eu estou levando nessas duas malas. Isso é cruel demais. Mas, de coração, espero que o que de mais valioso que estou levando, seja realmente transformador - que é a vontade de fazer acontecer e de que meu trabalho gere mesmo resultados que afetem positivamente a vida das pessoas.
Até Bisau!
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Cebolinha firme e forte
Hoje liguei pra Moçambique com aquele friozinho na barriga que me dá toda vez que ligo pro orfanato.
A última vez que falei com Cebola foi no Natal. Sabia que não iria falar com ele, pois desde maio ele e todas as crianças foram reinseridas em suas famílias. E o friozinho na barriga aumenta toda vez que lembro disso. Pessoalmente, eu acho que a Cruz Vermelha, que administrava o orfanato, tomou a decisão correta. Mas o meu medo era ter notícias que não fossem boas. No final de 2004, Cebola foi passar férias na casa do tio e não havia dado certo. Passou necessidades.
Enfim, dessa vez liguei, pois queria garantir notícias antes de ir para Bissau uma vez que não sei se conseguirei ligar via skype para o telefone fixo do orfanato, já que a conexão com a internet não é boa em Bissau.
Consegui falar com d. Deolinda, diretora do orfanato. E para minha felicidade ela reclamou bem menos do que das outras vezes que eu havia falado com ela. Disse que a reinserção de algumas crianças tem sido difícil, mas não se queixou tanto como antes. Falou que Cebola está feliz com o tio e, o mais importante, está saudável. Mas minha coragem não foi além: não perguntei se ele está na escola, pois tenho medo da resposta.
Ela visita as crianças semanalmente. Não tinha um telefone de contato para que eu pudesse falar com Cebola, mas me garantiu que se eu ligar em 15 dias, irá providenciar o celular do vizinho da família dele.
Como o tempo de lá é diferente do daqui, tenho esperança que conseguirei falar com Cebola ainda este ano.
A teacher tá morreeeeeendo de saudades!
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Contagem regressiva
Ainda me lembro de um sábado em setembro de 2002, quando fui à uma palestra em São Paulo sobre um programa de voluntariado na África. Àquela época, o jornalismo diário, instantâneo e superficial já me cansava. Queria novas emoções. Queria viver a reportagem em detalhes, com profundidade.
Ainda me lembro quando saí da reunião decidida: iria participar daquele programa de voluntariado. Pedi cem dólares emprestados para meu pai para me inscrever no programa, mesmo achando estranho e suspeito ter de pagar por tal programa. Mas tinha um feeling de que valeria a pena apostar.
Ainda me lembro daquele 23 de setembro de 2003, quando estava em Londres, a espera do avião que me levaria para Joanesburgo, na África do Sul. Era a primeira vez que seguiria para a África, para realizar um sonho de infância: conhecer a África dos africanos. De lá, segui direto para Beira, em Moçambique, primeira cidade africana onde vivi, e cuja história registrei um pouco aqui.
Ainda me lembro quando seis meses depois embarquei rumo ao Malawi, numa viagem de um dia, entre ônibus, caminhada, lotação. Sozinha. Eu e as bananas que me ajudaram a conseguir o visto de entrada no Malawi. Lá vivi por mais seis meses, a maioria deles na zona rural, sendo a única mulher branca da vila. No Malawi codirigi o documentário “Presidente sob encomenda”. Foi assim que nasceu a Minibus Media, apaixonada pelo jornalismo, inconsequente, confiante!
Ainda me lembro do regresso à Moçambique, com a cara (de pau) e a coragem. Comprei as passagens e para lá fui coproduzir o documentário E a luta continua, sem dúvida uma das melhores reportagens que já fiz.
Ainda me lembro que em 2006 fui para Angola implementar o primeiro projeto de videoparticipativo da Minibus Media. O tema bem oportuno para o país: o registro eleitoral e, posteriormente, as eleições legislativas. Pela Minibus lá também treinei ativistas da ONG Adra e da Omunga e um dos cursos deu origem ao embrião para a brigada de jornalistas da Omunga, com a qual produzimos também o documentário “Não partam a minha casa”.
Ainda me lembro das minhas férias de 2009, quando pude voltar para Moçambique, fazer um safári na África do Sul e conhecer a Suazilândia.
Ainda me lembro – e até consigo sentir – o frio na barriga que me deu em todas essas empreitadas.
Hoje conto os dias para ir para Guiné-Bissau, onde viverei por pelo menos seis meses, trabalhando como voluntária das Nações Unidas em um projeto de acesso à justiça do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Todas essas lembranças de África hoje me fazem ter a certeza de que sempre valerá a pena. Se já tive medo, temores e angústias, hoje tenho uma certeza: a decisão foi acertada, veio no momento correto para mim – e disso eu não tenho nenhuma dúvida.
Guiné-Bissau, me aguarde!
Ainda me lembro quando saí da reunião decidida: iria participar daquele programa de voluntariado. Pedi cem dólares emprestados para meu pai para me inscrever no programa, mesmo achando estranho e suspeito ter de pagar por tal programa. Mas tinha um feeling de que valeria a pena apostar.
Ainda me lembro daquele 23 de setembro de 2003, quando estava em Londres, a espera do avião que me levaria para Joanesburgo, na África do Sul. Era a primeira vez que seguiria para a África, para realizar um sonho de infância: conhecer a África dos africanos. De lá, segui direto para Beira, em Moçambique, primeira cidade africana onde vivi, e cuja história registrei um pouco aqui.
Ainda me lembro quando seis meses depois embarquei rumo ao Malawi, numa viagem de um dia, entre ônibus, caminhada, lotação. Sozinha. Eu e as bananas que me ajudaram a conseguir o visto de entrada no Malawi. Lá vivi por mais seis meses, a maioria deles na zona rural, sendo a única mulher branca da vila. No Malawi codirigi o documentário “Presidente sob encomenda”. Foi assim que nasceu a Minibus Media, apaixonada pelo jornalismo, inconsequente, confiante!
Ainda me lembro do regresso à Moçambique, com a cara (de pau) e a coragem. Comprei as passagens e para lá fui coproduzir o documentário E a luta continua, sem dúvida uma das melhores reportagens que já fiz.
Ainda me lembro que em 2006 fui para Angola implementar o primeiro projeto de videoparticipativo da Minibus Media. O tema bem oportuno para o país: o registro eleitoral e, posteriormente, as eleições legislativas. Pela Minibus lá também treinei ativistas da ONG Adra e da Omunga e um dos cursos deu origem ao embrião para a brigada de jornalistas da Omunga, com a qual produzimos também o documentário “Não partam a minha casa”.
Ainda me lembro das minhas férias de 2009, quando pude voltar para Moçambique, fazer um safári na África do Sul e conhecer a Suazilândia.
Ainda me lembro – e até consigo sentir – o frio na barriga que me deu em todas essas empreitadas.
Hoje conto os dias para ir para Guiné-Bissau, onde viverei por pelo menos seis meses, trabalhando como voluntária das Nações Unidas em um projeto de acesso à justiça do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Todas essas lembranças de África hoje me fazem ter a certeza de que sempre valerá a pena. Se já tive medo, temores e angústias, hoje tenho uma certeza: a decisão foi acertada, veio no momento correto para mim – e disso eu não tenho nenhuma dúvida.
Guiné-Bissau, me aguarde!
terça-feira, 24 de agosto de 2010
United Nations Volunteer position in Guiné-Bissau
UNV Communications and Advocacy open position in Guinea-Bissau
http://www.unv.org/en/how-to-volunteer/special-recruitment/doc/unv-communications-and-advocacy.html
or www.unv.org
Application can be done only through UNV site: see TORs and instructions in the above mentioned link.
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domingo, 8 de agosto de 2010
Simplesmente Mart´nália
Eu deveria estar empacotando minhas coisas agora, já que estou mudando de Brasília para Bissau, em África. Aliás, nem contei aqui. Sim, voltarei para África.... Mas não resisti e tive que assistir ao DVD (show, documentário, roda de semba) Mart´nália em África ao vivo.
Mais uma vez Mart´nália dá um show! SENSACIONAL.
A música, as imagens, os depoimentos... Em Mart´nália tudo emociona. A paixão com que ela fala de África, com que ela canta a África... É uma aula de história, de cultura, de tradição.
Depois escrevo com mais calma. Só queria deixar o recado para caso alguém passe por aqui. É uma maneira deliciosa de se conhecer a África.
Espero que Mart´nália vá para Bissau! Pelo calendário dela, só se alguma obra do destino acontecer conseguirei assistí-la em Brasília na semana que vem.
Quando ela aderir ao Creative Commons, colocarei aqui trechos do DVD!
Mais uma vez Mart´nália dá um show! SENSACIONAL.
A música, as imagens, os depoimentos... Em Mart´nália tudo emociona. A paixão com que ela fala de África, com que ela canta a África... É uma aula de história, de cultura, de tradição.
Depois escrevo com mais calma. Só queria deixar o recado para caso alguém passe por aqui. É uma maneira deliciosa de se conhecer a África.
Espero que Mart´nália vá para Bissau! Pelo calendário dela, só se alguma obra do destino acontecer conseguirei assistí-la em Brasília na semana que vem.
Quando ela aderir ao Creative Commons, colocarei aqui trechos do DVD!
quinta-feira, 4 de março de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Olhares Cruzados - Tinha que ser ele!
Ainda me lembro da primeira vez que vi Cebola. Foi no começo de outubro de 2003, quando alguns alunos da escola onde eu dava aula de inglês e de cidadania, em Beira, Moçambique, me chamaram para assistir ao ensaio de dança típica. Fui para uma sala abafada como todas as outras, com uma janela mais estreita do que comprida, que permitia passar apenas um facho de luz. Era de manhã. Devia ser umas 10h, por aí. O sol ardia lá fora. Lá dentro, calor e sombra. Sentei em um banquinho de madeira. Logo comecei a ouvir as batidas dos tambores e, a seguir, os dançarinos, crianças da escola, começaram a entrar pela porta da frente. Eram umas oito crianças. Os maiores entraram na frente, dançando, com aquela malemolência africana, as calças coloridas das capulanas, os peitos descobertos, pés no chão. Foi então que eu vi um menininho desengonçado entrando ao som dos tambores. Compenetrado, atento à música, marcando cada passo com determinação. Ele exibia um sorriso de canto de boca ao mesmo tempo em que franzia um pouco sua testa, apertando uma sobrancelha contra a outra. Essa é a mesma carinha que até hoje Cebola faz quando está pensativo. Tanto o carismo quanto o sorriso de canto de lábio ele também carrega até hoje.
Acho incrível como Cebola cativa as pessoas. Naquele dia, havia pelo menos mais sete crianças dançando, mas foi em Cebola que eu me concentrei. Simplesmente porque ele é especial. E dá para perceber isso na primeira olhada.
Nesse dia pude, sim, comprovar que existe amor à primeira vista. De lá para cá, Cebola entrou na minha vida e eu entrei na dele. Ele continua Cebola pra mim, eu virei "teacher" pra ele. Passaram-se quase seis anos daquele dia até maio deste ano, quando voltei a Moçambique para passar férias. Desde dezembro de 2004 que eu não via Cebola. Nos falamos quase que mensalmente, quando ligo para o orfanato onde ele mora. O nosso reencontro foi emocionante e merece um outro post. Hoje eu vou deixar aqui a foto da última vez que o vi, no fim de maio, meu último dia em Moçambique antes de voltar para o Brasil.
Eu passei no orfanato para me despedir das crianças. Cheguei lá por volta de umas 8h30-9h. Sabia que Cebola ia para a escola às 11h e, por isso, queria passar um tempo com ele antes da aula, já que meu voo saía às 13h. Chego lá, conversamos, nos abraçamos, acompanhei ele e as crianças a matabicharem (tomar café-da-manhã) com chá e pão (com pão). Depois a diretora do orfanato chegou e perguntou se Cebola havia lavado sua roupa. Ele disse que não e que ia fazer isso naquele instante. E fez. Cebola não tem muita roupa. Eram três camisetas e uma calça jeans. Ele ficou apenas com uma bermuda, que era a que estava vestindo. Falei para ele: "tem que terminar logo. Daí eu te levo na escola e depois vou para o aeroporto". Eis que Cebola me responde: "Teacher, eu não vou para a escola hoje. Lavei toda a minha roupa e não tenho como ir." Eu já não sabia se ria ou se chorava. Claro que ri, olhando para ele com cara de interrogação. Ele me olhou de volta, de canto de olho, com aquela carinha que ele sempre faz quando fica com uma mistura de vergonha e de safadinho. "Mas, Cebola, não dá para faltar à aula. Tem alguém para te emprestar uma roupa?", pergunto. "Vou esperar alguém chegar da aula para pegar a roupa". E aqui embaixo ele está - vestido para a aula, arrumando o material. E, acima de tudo, está maningue feliz.
Saí do orfanato com ele e fomos à pé em direção à pousada onde eu estava hospedada para pegar minhas coisas. Não resisti e paramos em um quiosque para tomar um refresco (refrigerante). Afinal, esse era nosso momento único. Ele não largava minha mão. Nem eu a dele. Tiramos várias fotos, demos risadas. No fim, eu dei a ele minha sandália havaiana, já que ele estava descalço e só tem um sapato, que é uma sapatilha (tênis) que usa em momentos especiais, como festas, para ir à Igreja e etc. "Não faz mal que é de mulher?", perguntei. "Não, teacher", respondeu Cebola. Subimos em um táxi e eu o deixei na escola e segui para o aeroporto. Ainda me lembro do carro partindo, da gente retribuindo os acenos e os sinais de beijos. Cebola deu de novo aquele sorriso, que do canto de lábio, encheu toda sua boca. Ele sabe que a teacher há de voltar! (Ah, meus olhos se encheram de lágrimas, claro, mas isso já nem é notícia)
Abaixo, as novas sandálias de Cebola:
Hora de lavar roupa:
Acho incrível como Cebola cativa as pessoas. Naquele dia, havia pelo menos mais sete crianças dançando, mas foi em Cebola que eu me concentrei. Simplesmente porque ele é especial. E dá para perceber isso na primeira olhada.
Nesse dia pude, sim, comprovar que existe amor à primeira vista. De lá para cá, Cebola entrou na minha vida e eu entrei na dele. Ele continua Cebola pra mim, eu virei "teacher" pra ele. Passaram-se quase seis anos daquele dia até maio deste ano, quando voltei a Moçambique para passar férias. Desde dezembro de 2004 que eu não via Cebola. Nos falamos quase que mensalmente, quando ligo para o orfanato onde ele mora. O nosso reencontro foi emocionante e merece um outro post. Hoje eu vou deixar aqui a foto da última vez que o vi, no fim de maio, meu último dia em Moçambique antes de voltar para o Brasil.
Eu passei no orfanato para me despedir das crianças. Cheguei lá por volta de umas 8h30-9h. Sabia que Cebola ia para a escola às 11h e, por isso, queria passar um tempo com ele antes da aula, já que meu voo saía às 13h. Chego lá, conversamos, nos abraçamos, acompanhei ele e as crianças a matabicharem (tomar café-da-manhã) com chá e pão (com pão). Depois a diretora do orfanato chegou e perguntou se Cebola havia lavado sua roupa. Ele disse que não e que ia fazer isso naquele instante. E fez. Cebola não tem muita roupa. Eram três camisetas e uma calça jeans. Ele ficou apenas com uma bermuda, que era a que estava vestindo. Falei para ele: "tem que terminar logo. Daí eu te levo na escola e depois vou para o aeroporto". Eis que Cebola me responde: "Teacher, eu não vou para a escola hoje. Lavei toda a minha roupa e não tenho como ir." Eu já não sabia se ria ou se chorava. Claro que ri, olhando para ele com cara de interrogação. Ele me olhou de volta, de canto de olho, com aquela carinha que ele sempre faz quando fica com uma mistura de vergonha e de safadinho. "Mas, Cebola, não dá para faltar à aula. Tem alguém para te emprestar uma roupa?", pergunto. "Vou esperar alguém chegar da aula para pegar a roupa". E aqui embaixo ele está - vestido para a aula, arrumando o material. E, acima de tudo, está maningue feliz.
Saí do orfanato com ele e fomos à pé em direção à pousada onde eu estava hospedada para pegar minhas coisas. Não resisti e paramos em um quiosque para tomar um refresco (refrigerante). Afinal, esse era nosso momento único. Ele não largava minha mão. Nem eu a dele. Tiramos várias fotos, demos risadas. No fim, eu dei a ele minha sandália havaiana, já que ele estava descalço e só tem um sapato, que é uma sapatilha (tênis) que usa em momentos especiais, como festas, para ir à Igreja e etc. "Não faz mal que é de mulher?", perguntei. "Não, teacher", respondeu Cebola. Subimos em um táxi e eu o deixei na escola e segui para o aeroporto. Ainda me lembro do carro partindo, da gente retribuindo os acenos e os sinais de beijos. Cebola deu de novo aquele sorriso, que do canto de lábio, encheu toda sua boca. Ele sabe que a teacher há de voltar! (Ah, meus olhos se encheram de lágrimas, claro, mas isso já nem é notícia)
Abaixo, as novas sandálias de Cebola:
Hora de lavar roupa:
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Olhares cruzados
Hoje acordei relembrando momentos especiais que vivi em África, muitos deles registrados com fotos e outros tantos em vídeo. No fim do ano passado tive a surpresa de reencontrar um HD externo com fotos que eu jurava que haviam ficado na Alemanha. Mas, pelo contrário, e para a minha sorte, atravessaram o Atlântico comigo. Foi nesse mexe-mexe de fim de ano que achei fotos de pessoas que passaram pela minha vida, de outras que ainda passam, de algumas com as quais convivi por um bom tempo, de outras que só estiveram comigo naquele instante. É para lembrar dessas pessoas e desses momentos mágicos, dos encontros, dos reencontros, e para começar 2010 com pique total, bwé de otimismo e amor, que vou postar aqui, neste mês, algumas imagens especiais. O título, Olhares Cruzados, é uma alusão a um projeto de mesmo nome que muito gosto.
Vem com tudo 2010!
Fiz essa foto no trem, em viagem do Lobito ao Cubal, em Angola, em setembro de 2006. Quando vi essa mulher entrar no trem, em uma vila no meio do caminho, eu não acreditei em sua beleza étnica. Como pode haver uma mulher tão linda assim, vestida com trajes típicos, aquela pele lisinha, aquele olhar penetrante. Aquele momento ficou pra sempre comigo. Não conversamos. Ela não falava português, só dialeto local. Apenas nos olhamos. E a comunicação foi suficiente para entendermos uma a outra.
Vem com tudo 2010!
Fiz essa foto no trem, em viagem do Lobito ao Cubal, em Angola, em setembro de 2006. Quando vi essa mulher entrar no trem, em uma vila no meio do caminho, eu não acreditei em sua beleza étnica. Como pode haver uma mulher tão linda assim, vestida com trajes típicos, aquela pele lisinha, aquele olhar penetrante. Aquele momento ficou pra sempre comigo. Não conversamos. Ela não falava português, só dialeto local. Apenas nos olhamos. E a comunicação foi suficiente para entendermos uma a outra.
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