Ainda me lembro de um sábado em setembro de 2002, quando fui à uma palestra em São Paulo sobre um programa de voluntariado na África. Àquela época, o jornalismo diário, instantâneo e superficial já me cansava. Queria novas emoções. Queria viver a reportagem em detalhes, com profundidade.
Ainda me lembro quando saí da reunião decidida: iria participar daquele programa de voluntariado. Pedi cem dólares emprestados para meu pai para me inscrever no programa, mesmo achando estranho e suspeito ter de pagar por tal programa. Mas tinha um feeling de que valeria a pena apostar.
Ainda me lembro daquele 23 de setembro de 2003, quando estava em Londres, a espera do avião que me levaria para Joanesburgo, na África do Sul. Era a primeira vez que seguiria para a África, para realizar um sonho de infância: conhecer a África dos africanos. De lá, segui direto para Beira, em Moçambique, primeira cidade africana onde vivi, e cuja história registrei um pouco aqui.
Ainda me lembro quando seis meses depois embarquei rumo ao Malawi, numa viagem de um dia, entre ônibus, caminhada, lotação. Sozinha. Eu e as bananas que me ajudaram a conseguir o visto de entrada no Malawi. Lá vivi por mais seis meses, a maioria deles na zona rural, sendo a única mulher branca da vila. No Malawi codirigi o documentário “Presidente sob encomenda”. Foi assim que nasceu a Minibus Media, apaixonada pelo jornalismo, inconsequente, confiante!
Ainda me lembro do regresso à Moçambique, com a cara (de pau) e a coragem. Comprei as passagens e para lá fui coproduzir o documentário E a luta continua, sem dúvida uma das melhores reportagens que já fiz.
Ainda me lembro que em 2006 fui para Angola implementar o primeiro projeto de videoparticipativo da Minibus Media. O tema bem oportuno para o país: o registro eleitoral e, posteriormente, as eleições legislativas. Pela Minibus lá também treinei ativistas da ONG Adra e da Omunga e um dos cursos deu origem ao embrião para a brigada de jornalistas da Omunga, com a qual produzimos também o documentário “Não partam a minha casa”.
Ainda me lembro das minhas férias de 2009, quando pude voltar para Moçambique, fazer um safári na África do Sul e conhecer a Suazilândia.
Ainda me lembro – e até consigo sentir – o frio na barriga que me deu em todas essas empreitadas.
Hoje conto os dias para ir para Guiné-Bissau, onde viverei por pelo menos seis meses, trabalhando como voluntária das Nações Unidas em um projeto de acesso à justiça do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Todas essas lembranças de África hoje me fazem ter a certeza de que sempre valerá a pena. Se já tive medo, temores e angústias, hoje tenho uma certeza: a decisão foi acertada, veio no momento correto para mim – e disso eu não tenho nenhuma dúvida.
Guiné-Bissau, me aguarde!
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
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