Hoje é meu aniversário. Ufa! São 30 aninhos. Mas não é bem sobre o meu aniversário que quero falar. Afinal, eu tenho família, sei o dia, o ano, o horário e até o local onde nasci. Em Moçambique, deparei-me com uma realidade bem diferente da minha. Trabalhei durante seis meses em Beira e no Dondo com um projeto com crianças órfãs cujo pelo menos um dos pais tinha HIV/Aids. Eram 120 crianças em três comunidades diferentes. A maioria delas não tinha registro de nascimento. É a essas crianças que dedico este post.
Minha missão no projeto era identificar as crianças, descobrir a data de nascimento e o nome dos pais para levar os dados à Ação Social, que faria o registro delas. O processo era sempre o mesmo. Ia à casa da criança e perguntava para um dos familiares, geralmente um dos avós, a idade da mesma. Eis que minha surpresa foi que a maioria dos familiares não se lembrava o ano de nascimento da criança. Nesses casos, o segundo passo era perguntar à própria criança a idade dela ou a idade que ela achava que tinha. Quando obtinha uma resposta, perguntava para o familiar se ele achava que a idade era aquela mesma. Em todos os casos houve concordância. Quando a criança não sabia a idade, usava outra técnica. Perguntava a idade das crianças amigas. O problema era que muitos dos amigos também não sabiam sua própria idade. Uma outra possibilidade era verificar em que série a criança estava. Mas esse se mostrou um método ineficiente. Ou a criança não estava estudando, ou na mesma classe havia crianças com até cinco anos de diferença para mais ou para menos.
Se todas as alternativas falhassem, a saída era mesmo advinhar uma idade aproximada. Depois de uma conversa com a família e com a criança, chegávamos a um consenso sobre o ano de nascimento. O próximo passo era o dia e o mês. Já que ia fazer o registro, tinha que ser completo. Era nessa etapa que eu era mais requisitada. Tanto crianças como familiares me pediam uma opinião. Dia 28 de abril na cabeça. Parabéns, criançada! No dia de hoje, mais do que o aniversário, vocês comemoram o seu direito à cidadania.
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5 comentários:
Nossa prima... que triste!!!
Até chorei!
Lindo seu trabalho e seu texto!
Parabéns triplo!
Beijos,
Camila.
Pelo menos assim não dá pra esquecer o aniversário dos meus milhares de sobrinhos africanos!!!!!!
Parabéns pelo seu aniversário e pela sua dedicação!
Beijos
Essa história me fez lembrar do finado Leonel Brizola. Ele nasceu no interior do Rio Grande do Sul e, além de não ter sido registrado, não tinha nome. Os irmãos eram muitos e esqueceram de lhe dar um nome. Até os sete anos, todos o chamavam apenas de Guri. Sério, li numa biografia dele.
Essa história do Brizola é muito boa. Infelizmente, ainda há muitos guris e gurias por aqui também.
Olá Mirella.
Tudo bem?
Bom, você não me conhece, eu sou o Michael, estudante de Relacoes Internacionais.
Bom, sendo bem direto, estou fazendo um trabalho de linguistica, e o meu tema é o uso de diferentes linguas nas eleicões africanas. Gostaria de saber se voce pode colaborar, dando sua opiniao em alguns aspectos e respondendo algumas perguntas.
Se for possivel, meu email é mikonzmor@hotmail.com. Mas se nao for, tudo bem tb. A leitura do seu blog já foi o máximo! =]
bom
obrigado pela atencao.
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