quinta-feira, 24 de abril de 2008

Cadê Michael Moore?


No fim da tarde de uma quinta-feira em agosto de 2006, cheguei ao escritório da ONG Omunga, em Lobito, Angola, depois de coordenar as atividades práticas do curso sobre jornalismo e vídeo-reportagem que eu e Chris, da Minibus Media, desenvolvemos por lá. Estava bem cansada. Afinal, sair com um grupo de 11 jovens às ruas para filmar entrevistas é um trabalho árduo, embora extremamente gratificante. Pois não é que volto ao Omunga e os funcionários estão bastante preocupados. M., uma das funcionárias, olha pra mim e diz: "-Mirella, a imigração está atrás de você. Vieram aqui dois homens e disseram que você tem de se apresentar no departamento de estrangeiros hoje". Bom, na hora disfarcei, mas confesso que gelei. Mas melhor ver o que está acontecendo. E lá fui eu e Chris. Subimos no táxi, como são chamadas as vans, depois cada um pegou uma mota (moto-táxi) e chegamos na imigração.
Não estou exagerando, mas todo mundo na imigração já sabia quem nós éramos e o que estávamos fazendo em Angola. Nossa chegada foi até motivo para despertar uns três funcionários que estavam com as cabeças debruçadas sobre a mesa de trabalho. Eu também teria sono lá. Afinal, ao fundo a televisão estava ligada, exibindo uma novela da Globo. As janelas fechadas, os móveis escuros, pouca iluminação. Dá sono mesmo. Nos apresentamos ao "Seu" Q.. "-Prazer, eu sou Mirella. Ele é Chris". E antes de eu falar qualquer outra coisa, "Seu" Q. olha pra mim e pergunta: "-Mas está a faltar o senhor Mixael More!". Bom, não me liguei logo de cara, mas conversa vai e conversa vem, percebi que "Seu" Q. queria falar com o documentarista Michael Moore. Quase não me aguentei. Não deu para não rir.

Essa história começou uns dez dias antes quando nós e os participantes do curso do Omunga tivemos a (brilhante) idéia de organizar a "Semana do Documentário Político", que seria realizada entre os dias 4 e 7 de setembro, a partir das 18h30, no Cine Baia, em Lobito. Durante a semana de documentários, o público em geral teria a oportunidade de assistir a filmes que foram levados por nós para Angola para servir de material de apoio ao curso que coordenamos com o Omunga. Dentre os filmes, estava o que nós havíamos produzido sobre as eleições em Moçambique e também o Fahrenheit 9/11, de Michael Moore.

Depois dos órgãos públicos terem dado todas as autorizações necessárias para o Projecto Omunga realizar a atividade, começamos a divulgar a semana em rádios locais e também com cartazes distribuídos em pontos-chave da cidade. Foi num desses cartazes que "Seu" Q. leu nosso nome e o de Michael Moore. E foi por isso que ele queria explicações.

Fim dessa parte da história: explicamos que Michael Moore é americano e que não estava em Angola. Falamos que tínhamos as autorizações necessárias para o evento. E, claro, convidamos todos os funcionários da imigração. Nenhum deles apareceu. Só a polícia. Mas isso eu deixo para o próximo post.

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