terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Feliz 2010!
Escrevi esse texto no dia 12 de janeiro deste ano, depois de já ter frequentado muito hospital nos poucos dias de 2009, com minha mãe e meu avô. Mas essa é ainda a história de Ano Novo que mais marcou. É por isso que vou repeti-la. Os votos para o Ano Novo são os mesmos. Só vou mudar as fotos, acrescentando imagens deste ano em que tive a oportunidade de visitar quatro países africanos (África do Sul, Angola, Moçambique e Suazilândia). As imagens mostram olhares e momentos que vão ficar para sempre comigo, lembranças de dias felizes em 2009.
Aí vai o texto:
Queria lembrar de uma historinha de fim de ano que me marcou muito.
No final de 2003, morava em Beira, Moçambique, e fui passar o Natal e o Ano Novo com meu namorado, Chris, no Malauí, onde ele estava morando. Parti com dor no coração quando me despedi das crianças do orfanato onde trabalhei. Também parti com a promessa de que, na volta, teria um programa na rádio mais ouvida da cidade. Enfim, parti. (Aliás, depois conto os perrengues da viagem de ônibus, trem, bicicleta para cruzar a fronteira)
Passei o Natal em Monkey Bay, no Malauí, com Chris, minha amiga húngara, Shari, e mais uma gringolândia (nem lembro da onde o pessoal era). Fiquei à beira do lago, lindo, com aquela lua que só vi em poucos lugares. É claro que não parecia Natal. Comi arroz com ovo frito, nada de confraternização e tal. Aquela coisa européia do norte sem graça num país pobre onde pouquíssimas pessoas celebram o Natal. Mas lá estava parte da minha família na África (Chris e Shari) e era isso que importava. A outra parte havia ficado em Moçambique, no orfanato, e isso me fez sentir saudades. Fiquei mesmo na dúvida se deveria ter ido ao Malauí ou ter ficado em Moçambique com meus menininhos.
Depois do Natal, Chris e eu pegamos o Ilala, que é um mini-navio que segue para o norte do lago Malauí. Foram três dias de viagem até chegarmos a Nhakata Bay. Outro paraíso malauiano. Depois conto da viagem, que foi fantástica, apesar da super lotação do navio e de eu ser uma das atrações turísticas. Claro, mais uma vez, a única mulher branca no local. E a única brasileira!
Enfim, passamos a virada de 2003 para 2004 à beira do lago Malauí, a 12 horas de viagem de barco (um barquinho) rumo ao norte do país. Me vesti de branco e pulei sete ondinhas. Daí eu percebi como é bom ser brasileira ( e ter tradição!). É óbvio que eu era a única pessoa com pelo menos umas 15 simpatias na manga... haah. Foi um fim de ano sensacional, no meio do nada, natureza, um céu maravilhoso, um lago que eu nem sabia que existia, sem qualquer meio de comunicação, dormir na praia (de lago) com muita citronela para espantar o mosquito da malária... A volta para Yassini, onde Chris morava, também foi ótima! Ele viajou 14 horas em pé no corredor de um ônibus super lotado. Eu consegui lugar em cima de um saco de batatas (que deve ter virado purê depois da viagem). Coisas da vida, coisas de África! Banheiro no mato, à beira da estrada. Outra atração turística. Mas eu já estava esperta e tinha minhas táticas dos panos africanos.
Eis que volto para Moçambique com Shari (teve um perrengue na viagem também.... perdemos o ônibus!) e minha primeira parada, obviamente, foi no orfanato. Lá encontrei Cebolinha com um olhar triste, meio desconfiado. Peguei-o no colo e o coloquei sentado num murinho que segurava uma janela. Pedi para ele me abraçar: "Não vai abraçar a teacher?", perguntei. Daí ele me abraçou como havia me abraçado a primeira vez que conseguiu me dar um abraço (outra história que preciso contar aqui). Arnaldo, que também morava no orfanato, falou para mim: "Ele estava com medo de que a teacher havia esquecido dele e que não iria mais voltar." Isso cortou meu coração. Claro que ele tinha esse medo. Afinal, muitos voluntários e não-voluntáros vão para a África, vivem experiências maravilhosas, ficam marcados para o resto da vida e marcam os africanos que os conhecem também. O problema é que vários (ou será a maioria?) voltam para seus países de origem e nunca mais dão notícias. Manter contato é uma questão de respeito, na minha opinião - além de amizade, carinho, amor. É por isso que mantenho contato até hoje com todos os africanos que moram no meu coração e que fizeram e fazem parte da minha vida ontem, hoje e sempre.
O abraço de Cebola fez com que ele retomasse a confiança em mim. Aqueles minutinhos também me ensinaram muito mais. Cebola me contou que tomou refresco (refrigerante) no Natal e que comeu carne (de carneiro). Um luxo para ele que, diga-se de passagem, é bom de garfo como a teacher. Perguntei para Arnaldo como havia sido o fim do ano. Ele me disse: "Foi bom. Ninguém morreu, ninguém ficou doente!" E ouvir essas palavras de um cara órfão desde criança, que em 2003 devia ter em torno de uns 20 anos, foi uma grande lição de vida. E é isso que realmente importa: saúde!
Feliz 2010 para todos. Saúde! Saudades do meu povo.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Lembranças.... boas lembranças II
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
O embondeiro
O embondeiro, ou baobá, é a árvore-símbolo de Angola. Para mim é o símbolo da força, da luta. É uma árvore exuberante, que reina, soberana, naquele semi-árido do caraças, como dizem meus amigos angolanos.
Há várias lendas sobre o embondeiro. Uma das que mais gosto é a de que ele é a árvore do esquecimento. Quando os portugueses traziam os angolanos como escravos para o Brasil, eles os obrigavam a dar voltas em torno do embondeiro para que deixassem seu passado e sua história na África. Mas ainda bem que vários escravos não o fizeram assim, deram voltas ao contrário em torno do embondeiro, e, assim, trouxeram para cá muito do que hoje é a cultura brasileira.
E nessa época de fim de ano, eu também quero aproveitar para dar a volta ao contrário em torno do embondeiro para relembrar e poder aprender com o que passou e melhorar - sempre, assim espero.
Abaixo, duas fotos que tirei com o carro em movimento, na estrada que liga Lobito a Luanda, no mês passado.
Há várias lendas sobre o embondeiro. Uma das que mais gosto é a de que ele é a árvore do esquecimento. Quando os portugueses traziam os angolanos como escravos para o Brasil, eles os obrigavam a dar voltas em torno do embondeiro para que deixassem seu passado e sua história na África. Mas ainda bem que vários escravos não o fizeram assim, deram voltas ao contrário em torno do embondeiro, e, assim, trouxeram para cá muito do que hoje é a cultura brasileira.
E nessa época de fim de ano, eu também quero aproveitar para dar a volta ao contrário em torno do embondeiro para relembrar e poder aprender com o que passou e melhorar - sempre, assim espero.
Abaixo, duas fotos que tirei com o carro em movimento, na estrada que liga Lobito a Luanda, no mês passado.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Para Stefanny
O textinho abaixo escrevi para a Stefanny levar na escola e apresentar para seus colegas.
Meu nome é Mirella. Tenho 31 anos e sou jornalista. Estou escrevendo esse texto a pedido da Stefanny. Ela sabe que eu já morei na África e que voltei várias vezes àquele continente. É por isso que vou contar para vocês um pouquinho do que aprendi por lá.
A África é um continente muito grande. São, ao todo, 53 países. Cada país com uma cultura e uma história diferentes. Desses países, a língua portuguesa é um dos idiomas oficiais em cinco deles: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. Lá se fala português porque, assim como o Brasil, esses países também foram colonizados pelos portugueses. E foi assim que tanto a história do Brasil e da África se cruzaram.
Os portugueses trouxeram vários africanos como escravos para o Brasil. A escravidão foi, sem dúvida, um dos momentos mais cruéis da história da humanidade. Porque ao trazer aqueles africanos para o Brasil, os portugueses os tiravam a força de suas famílias e também tiravam sua dignidade. Os tratavam como mercadoria, os forçavam a trabalhar, os batiam, os maltratavam. É por isso que não podemos esquecer essa história. Porque, acima de tudo, não podemos jamais repeti-la.
Na época da escravatura, muitos negros refugiaram-se em quilombos, que eram áreas onde muitos afrodescendentes (negros e mestiços), se agrupavam para escapar da escravidão. O mais famoso quilombo foi o Quilombo dos Palmares, localizado onde é hoje o estrado de Alagoas. O Quilombo dos Palmares existiu por mais de um século, se tornando um símbolo da resistência africana à escravatura, que terminou oficialmente no Brasil com a assinatura da Lei Áurea.
Hoje, no Brasil vive a maior população negra do mundo fora da África. Foram esses negros trazidos como escravos que ajudaram a construir o Brasil de hoje. Eles trouxeram sua cultura, suas crenças, sua força, sua luta, sua música, sua culinária. Hoje há muitos brasileiros como você, como eu, como várias pessoas que conhecemos que são netos, bisnetos, tataranetos de descendentes de escravos e de ex-escravos. Somos todos brasileiros, iguais, apesar de diferentes cores de pele.
Conhecer nossa história é importante para entender o Brasil de hoje e para que possamos respeitar toda pessoa, independente de sua cor de pele. Por isso é que agradeço à Stefanny por me dar essa oportunidade de falar um pouquinho sobre a África e do africano que existe em cada um de nós brasileiros.
Com carinho,
Mirella
Meu nome é Mirella. Tenho 31 anos e sou jornalista. Estou escrevendo esse texto a pedido da Stefanny. Ela sabe que eu já morei na África e que voltei várias vezes àquele continente. É por isso que vou contar para vocês um pouquinho do que aprendi por lá.
A África é um continente muito grande. São, ao todo, 53 países. Cada país com uma cultura e uma história diferentes. Desses países, a língua portuguesa é um dos idiomas oficiais em cinco deles: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. Lá se fala português porque, assim como o Brasil, esses países também foram colonizados pelos portugueses. E foi assim que tanto a história do Brasil e da África se cruzaram.
Os portugueses trouxeram vários africanos como escravos para o Brasil. A escravidão foi, sem dúvida, um dos momentos mais cruéis da história da humanidade. Porque ao trazer aqueles africanos para o Brasil, os portugueses os tiravam a força de suas famílias e também tiravam sua dignidade. Os tratavam como mercadoria, os forçavam a trabalhar, os batiam, os maltratavam. É por isso que não podemos esquecer essa história. Porque, acima de tudo, não podemos jamais repeti-la.
Na época da escravatura, muitos negros refugiaram-se em quilombos, que eram áreas onde muitos afrodescendentes (negros e mestiços), se agrupavam para escapar da escravidão. O mais famoso quilombo foi o Quilombo dos Palmares, localizado onde é hoje o estrado de Alagoas. O Quilombo dos Palmares existiu por mais de um século, se tornando um símbolo da resistência africana à escravatura, que terminou oficialmente no Brasil com a assinatura da Lei Áurea.
Hoje, no Brasil vive a maior população negra do mundo fora da África. Foram esses negros trazidos como escravos que ajudaram a construir o Brasil de hoje. Eles trouxeram sua cultura, suas crenças, sua força, sua luta, sua música, sua culinária. Hoje há muitos brasileiros como você, como eu, como várias pessoas que conhecemos que são netos, bisnetos, tataranetos de descendentes de escravos e de ex-escravos. Somos todos brasileiros, iguais, apesar de diferentes cores de pele.
Conhecer nossa história é importante para entender o Brasil de hoje e para que possamos respeitar toda pessoa, independente de sua cor de pele. Por isso é que agradeço à Stefanny por me dar essa oportunidade de falar um pouquinho sobre a África e do africano que existe em cada um de nós brasileiros.
Com carinho,
Mirella
sábado, 21 de novembro de 2009
A malta
Omunga, palavra em umbundu, significa união. Omunga é o nome da minha ONG angolana do coração. Para quem conhece a ONG, logo percebe que omunga é família, sonho, ativismo. É o berço da brigada de jornalistas em parceria com a Minibus. Omunga é transformação. É por causa das gentes do Omunga que eu gosto tanto de Angola. Malta, já estou a sentir saudades!
Dessa vez foi muito rápido. Não fui nem à restinga, não consegui ver todo mundo que queria, nem me despedir direito deu. Mas vejo pelo lado positivo. É sinal que terei que voltar. E esse sentimento de que sempre há mais para fazer é que me motiva a voltar sempre, seja para Angola, Moçambique ou para o Brasil. Esse sentimento de ainda não estar pronto revolta ao mesmo tempo que motiva. Construir é transformar. Estamos juntos!
Dessa vez foi muito rápido. Não fui nem à restinga, não consegui ver todo mundo que queria, nem me despedir direito deu. Mas vejo pelo lado positivo. É sinal que terei que voltar. E esse sentimento de que sempre há mais para fazer é que me motiva a voltar sempre, seja para Angola, Moçambique ou para o Brasil. Esse sentimento de ainda não estar pronto revolta ao mesmo tempo que motiva. Construir é transformar. Estamos juntos!
Só em Angola
Conheci Amor de Fátima. Sim, a rapariga tem esse nome. Nome lindo. Adorei. Apresento aqui Amor de Fátima, filha de Admiração Francisco, ao lado de Claudio, meu anjo!
Eu também conheci Rambo. Tava crente que era um apelido em referência ao fortão dos cinemas. Não, não era. Mas o Rambo de Angola dá de mil a zero em quesito simpatia. Abaixo, Rambo (à esquerda), eu - vítima dos celulares, diga-se de passagem - e Secretário (à direita). Ah, o Secre trabalha no Omunga e o nome dele é Secretário mesmo. Só em Angola. Dá para não AMAR um lugar assim?
Eu também conheci Rambo. Tava crente que era um apelido em referência ao fortão dos cinemas. Não, não era. Mas o Rambo de Angola dá de mil a zero em quesito simpatia. Abaixo, Rambo (à esquerda), eu - vítima dos celulares, diga-se de passagem - e Secretário (à direita). Ah, o Secre trabalha no Omunga e o nome dele é Secretário mesmo. Só em Angola. Dá para não AMAR um lugar assim?
Mulher da cor do tempo
Hoje, na volta de Luanda a São Paulo, li "O livro da paz da mulher angolana - as heroínas sem nome". Deliciosa leitura, cheia de história, de garra, de sofrimento, de luta. Uma visão da importância da mulher na construção da paz e um tapa de luva de pelica em conceitos vazios de desigualdade de gênero. A mulher, mesmo em tempos de guerra, carrega em si humanismo e, com ele, carrega a humanidade.
Aqui vai uma pequena homenagem à mulher angolana, com algumas poucas fotos que fiz durante essa última estadia no país e um texto de Dya Kasembe:
"Há no teu olhar
Toda a violência que Angola tem
Há nesse olhar
Toda a bondade da humanidade
No teu olhar
Mulher da cor do tempo
a ironia da vida, e a dor do mundo habitam
Eu vi no teu olhar
Mulher da cor do tempo
O mar se afogar nas tuas lágrimas
Nesse olhar
Mulher da cor do tempo
Perdi-me
encontrei-me
Nesse olhar
Mulher da cor do tempo
Vi olhares de todas as mulheres"
Aqui vai uma pequena homenagem à mulher angolana, com algumas poucas fotos que fiz durante essa última estadia no país e um texto de Dya Kasembe:
"Há no teu olhar
Toda a violência que Angola tem
Há nesse olhar
Toda a bondade da humanidade
No teu olhar
Mulher da cor do tempo
a ironia da vida, e a dor do mundo habitam
Eu vi no teu olhar
Mulher da cor do tempo
O mar se afogar nas tuas lágrimas
Nesse olhar
Mulher da cor do tempo
Perdi-me
encontrei-me
Nesse olhar
Mulher da cor do tempo
Vi olhares de todas as mulheres"
As orebas!
Coisas que ouvi em Angola...
1. Chego no aeroporto hoje às 6h. Meu voo tá marcado para às 9h15. Depois de mostrar o passaporte CINCO vezes até quase chegar ao check in, o policial fala:
- A senhora não pode entrar
- Como não, senho-or?
- Agora é só pra quem vai a Joburg. Seu check in é às 9h
- Mas como, se o voo está marcado para as 9h?
- É isso que eu sei.
2. Professores perguntam às crianças:
- Sabem onde nasce o milho?
- Sim, do PMA (Programa Mundial de Alimentação)
3. Portugal é Angola.. Esse era o refrão que os portugueses tinham que cantar quando partiam de navio para Angola, para gozar das graciosas, nos tempos coloniais. Graciosas eram férias em Portugal financiadas pelo governo português aos trabalhadores portugueses que viviam em Angola
4. E tem quem garanta que Portugal "era um atraso de vida" naquela época. Angola era muito mais fervilhante. E na minha versão: até hoje é assim.
1. Chego no aeroporto hoje às 6h. Meu voo tá marcado para às 9h15. Depois de mostrar o passaporte CINCO vezes até quase chegar ao check in, o policial fala:
- A senhora não pode entrar
- Como não, senho-or?
- Agora é só pra quem vai a Joburg. Seu check in é às 9h
- Mas como, se o voo está marcado para as 9h?
- É isso que eu sei.
2. Professores perguntam às crianças:
- Sabem onde nasce o milho?
- Sim, do PMA (Programa Mundial de Alimentação)
3. Portugal é Angola.. Esse era o refrão que os portugueses tinham que cantar quando partiam de navio para Angola, para gozar das graciosas, nos tempos coloniais. Graciosas eram férias em Portugal financiadas pelo governo português aos trabalhadores portugueses que viviam em Angola
4. E tem quem garanta que Portugal "era um atraso de vida" naquela época. Angola era muito mais fervilhante. E na minha versão: até hoje é assim.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A deixar marcas em Angola
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Morena de Angola
Tinha que ser ele!
Zeto, manucho, angolano, visionário, ativista, hoje à tarde, depois de comermos prego no prato em Benguela.
Em tempo 1: Não, não foi regime. Prego no prato é bife, salada, ovo frito, e batata frita!
Em tempo 2: Hoje à noite precisava de um dooooce. Ainda mais porque eu já fiz tanta coisa aqui que achava que era terça, mas fui alertada que ainda é segunda, dia internacional do regime, que eu já havia burlado mesmo. Enfim, estava em um restaurantezito, como dizem por aqui:
- O que você tem de doce?
- Salada de frutas
- Mas salada de frutas não é doce
Cara de espanto
- Eu falo doce com açúcar
- Ah, temos rebuçado
- Tá bom, quero um (e comprei uma bala de morango)
Um fim de tarde na praia Morena
Estávamos a discutir a organização da conferência no Solar dos Leões, Benguela, uma construção do tempo colonial usada àquela época para festas. Uma construção bwé fixe, diga-se de passagem. É um grande salão, coberto apenas nas laterais, com o centro descoberto. Acho que os portugueses gostavam muito desse clima de África. Em Angola, por exemplo, construíram vários cinemas abertos.
Enfim, estava lá, quando resolvi olhar mais uma vez para o céu. Devia ser por volta das 17h. Vi de novo aquela luz. Aquela luz d´África, dos meus sonhos de infância. De "todas as cores da vida", como dizia vovô Dembo. Não resisti e dei aquela escapulida para a praia Morena, logo à frente. Que luz! Que pôr-do-sol!
Enfim, estava lá, quando resolvi olhar mais uma vez para o céu. Devia ser por volta das 17h. Vi de novo aquela luz. Aquela luz d´África, dos meus sonhos de infância. De "todas as cores da vida", como dizia vovô Dembo. Não resisti e dei aquela escapulida para a praia Morena, logo à frente. Que luz! Que pôr-do-sol!
Cada coisa no seu tempo
Essa é uma das lições que aprendi na África e que aqui em Angola reforço mais uma vez. Tudo acontece como tem que acontecer no final. Mais uma vez, o dia-a-dia me ensina isso aqui.
Não é que amanhã começa a terceira Conferência da Sociedade Civil em Angola, na cidade de Benguela, e nós do Omunga vamos lançar a exposição fotográfica Vamos Votar.
Já tive mil discussões sobre isso com meus amiguchos alemães. Tanto que eles enviaram os convites impressos para Angola com a data e local da exposição em branco, para preencher à mão.
Pois bem, até hoje não tínhamos um lugar definido. Mas Angola surpreende sempre. Tem uma burocracia que põe todos nas macas, mas no fim tudo acaba drede! É bem paradoxal. Os processos são lentos, bwé de papel e tal, mas na hora H, tenho a impressão de que Angola é um dos lugares menos burocráticos do mundo. E não bebi nenhuma Cuca agora à noite!
Hoje de manhã fomos ao Museu da Escravidão, em Benguela, tentar um local para montar a exposição. Não deu. Dez minutos depois, estávamos (eu, Zeto, Secre e Edson) na Universidade de Benguela, com o vice-reitor. Nada marcado. Só aparecemos lá, o gajo nos recebeu e pronto. Nos mostrou o saguão da universidade, onde acontece - ou melhor, acontecia - uma exposição fotográfica sobre as crianças angolanas. Linda exposição. Mas, pedimos licença para desmontar a exposição por três dias, e montar a nossa exposição. Colocamos as fotos das crianças atrás de um sofá, escondidas, aproveitamos os cavaletes que lá estavam, e, pronto, nossa exposição está montada. Amanhã será o coquetel de lançamento, evento paralelo à conferência. Ah, e os 150 convites, claro, preenchemos à mão. Mas o importante é que deu certo e que a exposição tá bwé fixe!
Abaixo, fotos da montagem:
Não é que amanhã começa a terceira Conferência da Sociedade Civil em Angola, na cidade de Benguela, e nós do Omunga vamos lançar a exposição fotográfica Vamos Votar.
Já tive mil discussões sobre isso com meus amiguchos alemães. Tanto que eles enviaram os convites impressos para Angola com a data e local da exposição em branco, para preencher à mão.
Pois bem, até hoje não tínhamos um lugar definido. Mas Angola surpreende sempre. Tem uma burocracia que põe todos nas macas, mas no fim tudo acaba drede! É bem paradoxal. Os processos são lentos, bwé de papel e tal, mas na hora H, tenho a impressão de que Angola é um dos lugares menos burocráticos do mundo. E não bebi nenhuma Cuca agora à noite!
Hoje de manhã fomos ao Museu da Escravidão, em Benguela, tentar um local para montar a exposição. Não deu. Dez minutos depois, estávamos (eu, Zeto, Secre e Edson) na Universidade de Benguela, com o vice-reitor. Nada marcado. Só aparecemos lá, o gajo nos recebeu e pronto. Nos mostrou o saguão da universidade, onde acontece - ou melhor, acontecia - uma exposição fotográfica sobre as crianças angolanas. Linda exposição. Mas, pedimos licença para desmontar a exposição por três dias, e montar a nossa exposição. Colocamos as fotos das crianças atrás de um sofá, escondidas, aproveitamos os cavaletes que lá estavam, e, pronto, nossa exposição está montada. Amanhã será o coquetel de lançamento, evento paralelo à conferência. Ah, e os 150 convites, claro, preenchemos à mão. Mas o importante é que deu certo e que a exposição tá bwé fixe!
Abaixo, fotos da montagem:
domingo, 15 de novembro de 2009
Da série não dá para acreditar
1- Os RGs em Angola terão a cara do presidente de Angola.
2- Os chineses que não dirigem na China vêm para cá e dirigem meios de transporte da construção civil... Já mataram bwé por aqui.
3- Partiram, como dizem por aqui, a estação de trem da Catumbela. Ou seja: demoliram aquela gracinha de estação e os chineses estão construindo um negócio horroroso no local. Em uns dois ou três posts abaixo, postei uma foto com bwé de malta. Era da estação da Catumbela, em 2006, paragem no caminho ao Cubal.
2- Os chineses que não dirigem na China vêm para cá e dirigem meios de transporte da construção civil... Já mataram bwé por aqui.
3- Partiram, como dizem por aqui, a estação de trem da Catumbela. Ou seja: demoliram aquela gracinha de estação e os chineses estão construindo um negócio horroroso no local. Em uns dois ou três posts abaixo, postei uma foto com bwé de malta. Era da estação da Catumbela, em 2006, paragem no caminho ao Cubal.
Cheguei!
Ma, nao cosigo acessar meu email.
To no Lobito, na casa do Zeto. Aqui sao quatro horas a mais.
Qualquer coisa liga no numero dele....
Depois escrevo..
To no Lobito, na casa do Zeto. Aqui sao quatro horas a mais.
Qualquer coisa liga no numero dele....
Depois escrevo..
sábado, 14 de novembro de 2009
Haja ansiedade... tá chegando
Nóooooooooooooooooooo.... fazia tempo que não me sentia tão ansiosa. Bom, nem tanto tempo assim (antes das minhas férias tava assim também). Mas tá chegando a hora. O avião da Taag já chegou. O pessoal está desembarcando. Em pouco tempo parto para Luanda. Que bom! Isso me lembra um texto que eu adoro, de Ruy Carvalho. Aí vai:
PRIMEIRA PROPOSTA PARA UMA NOÇÃO GEOGRÁFICA
Sou testemunho da noção geográfica
que identifica as quatro direções
do sol as muitas mais que o homem tem.
Sou mensageiro das identidades
de que se forja a fala do silêncio.
Habito um continente e a comunhão prevista
além dos horizontes por transpor.
Renovo-me em saber, olhando o sol
acesa a cor para além destas fronteiras.
E se me ocorre o mar e me detenho
a frente dos meus gados indefesos
eu saberei da costa o quanto me prolonga
além das águas e dos meus recursos.
Olhando o mar eu sei que no temor
vivo em meu sangue, ardente e tão pesado
que há-de acorrer ao sangue de meus filhos
se deposita a mágoa antiga já
em que fermento a raiva e o vigor
para conquistar o mar e devolver
a cor o seu sentido e a dignidade.
Circulo a plataforma das viagens
para inventar as direções do mar
além de estéreis nuvens.
Um chão propício para erguer o encontro
entre o destino e o corpo.
Se as minhas mãos se tingem de vermelho, ao norte
e eu todavia me reservo ao sul
porque da terra quero a superfície plana
e a natureza vítrea do seu rosto
e a dádiva frugal de quanto a terra da
sem que lhe fira o ventre
eu digo —
a terra toda, a terra, a funda terra...
e uma noção mais vasta me sugere
a extrema dimensão do continente
e a comunhão de muitas outras vozes
vertendo o mesmo som no vão da noite.
E a forma de dois pés e o pó que os cerca
as mesmas latitudes para um só pisar
em cor de pés e pó omnipresente.
Habito o cheiro e quantas coisas simples
me fazem merecer o pó pisado.
E se eu falar de exílios mergulhado em dambas
ou penetrar florestas de umidade alheia
ou me dessedentar em águas que me expulsem
por lhes negar respeito e vê-las fáceis
ainda assim recordarei montanhas
quando a manha me recordar cacimbos
e saberei que estas imagens novas
por serem espelho de outras me pertencem
como se vê-las fosse a minha origem.
Nem tanto a voz cativa de um lugar
nem a função contida pela herança
nem a ciência exacta de um relevo.
Habito um corpo móvel de paisagens
protegidas por clareiras de fartura.
Habito o movimento e a minha pátria
é todo o continente de que não sei o fim.
Irei tão longe quanta for a sede e a urgência da mudança.
Cruzar-me-ei com as nuvens de outros corpos
movidos por idêntica voragem.
A diástole da vida me governa.
Atingirei o extremo norte
se a tanto me levar
o corpo fustigado pela carência das águas.
Habito as fontes todas do deserto
e obedeço ao vento, ao sol, as luas da verdura.
E nada me detém se a sede anima
o sangue aceso deste corpo enxuto.
Devasso a região dos Grandes Lagos
e as baixas pantanosas de Okavango.
Bordejo os areais da suave brisa:
Chaibi, Namibe, Kalaari
a estepe do Masai, montes do Karoo
que é onde a planta luta por florir
e aguarda paciente a gota de água.
Mergulho na garganta de Olduvai
e calco em meu andar
os fósseis mais remotos
argamassada em pedras a grandeza
da inusitada fúria que transforma
a mão em arma e os olhos em zagaias.
Repouso nas ruínas de Ashanti
nas construções ciosas do Benim
nas alas circulares do Zimbabwe:
adormeço vertido no regaço
do odor antigo do poder vencido
e na serena placidez do tempo.
Monomotapa, Ghana, Luba
reinos, impérios, fundadores de impérios.
Cavaleiros de Kanem-Bornu
mercadores de Kano, Zaria e Nok
profetas do Congo
muquixis da Lunda
adoradores do ferro:
Ashanti, Ibos
sentinelas dos rios:
Núbios, Kikuios
sóbrios amantes do leite:
Masai, Hereros
cultivadores de anharas
caminheiros da estepe
sombras da savana.
PRIMEIRA PROPOSTA PARA UMA NOÇÃO GEOGRÁFICA
Sou testemunho da noção geográfica
que identifica as quatro direções
do sol as muitas mais que o homem tem.
Sou mensageiro das identidades
de que se forja a fala do silêncio.
Habito um continente e a comunhão prevista
além dos horizontes por transpor.
Renovo-me em saber, olhando o sol
acesa a cor para além destas fronteiras.
E se me ocorre o mar e me detenho
a frente dos meus gados indefesos
eu saberei da costa o quanto me prolonga
além das águas e dos meus recursos.
Olhando o mar eu sei que no temor
vivo em meu sangue, ardente e tão pesado
que há-de acorrer ao sangue de meus filhos
se deposita a mágoa antiga já
em que fermento a raiva e o vigor
para conquistar o mar e devolver
a cor o seu sentido e a dignidade.
Circulo a plataforma das viagens
para inventar as direções do mar
além de estéreis nuvens.
Um chão propício para erguer o encontro
entre o destino e o corpo.
Se as minhas mãos se tingem de vermelho, ao norte
e eu todavia me reservo ao sul
porque da terra quero a superfície plana
e a natureza vítrea do seu rosto
e a dádiva frugal de quanto a terra da
sem que lhe fira o ventre
eu digo —
a terra toda, a terra, a funda terra...
e uma noção mais vasta me sugere
a extrema dimensão do continente
e a comunhão de muitas outras vozes
vertendo o mesmo som no vão da noite.
E a forma de dois pés e o pó que os cerca
as mesmas latitudes para um só pisar
em cor de pés e pó omnipresente.
Habito o cheiro e quantas coisas simples
me fazem merecer o pó pisado.
E se eu falar de exílios mergulhado em dambas
ou penetrar florestas de umidade alheia
ou me dessedentar em águas que me expulsem
por lhes negar respeito e vê-las fáceis
ainda assim recordarei montanhas
quando a manha me recordar cacimbos
e saberei que estas imagens novas
por serem espelho de outras me pertencem
como se vê-las fosse a minha origem.
Nem tanto a voz cativa de um lugar
nem a função contida pela herança
nem a ciência exacta de um relevo.
Habito um corpo móvel de paisagens
protegidas por clareiras de fartura.
Habito o movimento e a minha pátria
é todo o continente de que não sei o fim.
Irei tão longe quanta for a sede e a urgência da mudança.
Cruzar-me-ei com as nuvens de outros corpos
movidos por idêntica voragem.
A diástole da vida me governa.
Atingirei o extremo norte
se a tanto me levar
o corpo fustigado pela carência das águas.
Habito as fontes todas do deserto
e obedeço ao vento, ao sol, as luas da verdura.
E nada me detém se a sede anima
o sangue aceso deste corpo enxuto.
Devasso a região dos Grandes Lagos
e as baixas pantanosas de Okavango.
Bordejo os areais da suave brisa:
Chaibi, Namibe, Kalaari
a estepe do Masai, montes do Karoo
que é onde a planta luta por florir
e aguarda paciente a gota de água.
Mergulho na garganta de Olduvai
e calco em meu andar
os fósseis mais remotos
argamassada em pedras a grandeza
da inusitada fúria que transforma
a mão em arma e os olhos em zagaias.
Repouso nas ruínas de Ashanti
nas construções ciosas do Benim
nas alas circulares do Zimbabwe:
adormeço vertido no regaço
do odor antigo do poder vencido
e na serena placidez do tempo.
Monomotapa, Ghana, Luba
reinos, impérios, fundadores de impérios.
Cavaleiros de Kanem-Bornu
mercadores de Kano, Zaria e Nok
profetas do Congo
muquixis da Lunda
adoradores do ferro:
Ashanti, Ibos
sentinelas dos rios:
Núbios, Kikuios
sóbrios amantes do leite:
Masai, Hereros
cultivadores de anharas
caminheiros da estepe
sombras da savana.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Rumo a Benguela, Angola
Tá chegando a hora. Em um dia estarei desembarcando em Luanda e, depois, oito horas de carro rumo à Benguela, onde vou permanecer por uma semana. Ohhhh, saudades!
É muito bom poder voltar a Angola. Há pouco mais de um ano estive por lá, em Luanda, dando um curso de vídeo-participativo. No ano passado, só fiquei na capital angolana. Dessa vez, só vou ficar em Lobito-Benguela, o meu lugar do coração em Angola! Lá vou reencontrar os brigadistas Dino, Isabel, Jesse e Edson, os meus jornalistas comunitários prediletos e a prova mais concreta de que um trabalho sério gera, sim, desenvolvimento, pelo menos do meu ponto de vista (= desenvolvimento como liberdade, o capabilities approach, segundo Amarthya Sen). Lá também vou reencontrar Zeto, amigo que eu adoooooro, visionário, ativista de direitos humanos, e Secre, que é uma doçura de pessoa. Vou reencontrar a equipe do Omunga e da Adra. Vou conhecer a Mirella. Sim, a filha da Suzy, que levou meu nome, conforme já contei no blog. Também vou rever o mar, os mercados de Benguela, os candongueiros, vou tomar galão e comer tosta, vou me encher de pimenta, vou olhar aqueles morros secos, de savana, as casas, as obras da Odebrecht, da Camargo Correia, dos chineses, vou ver o porto seco (ahh, isso vai ser duro), vou ver o porto do Lobito, tentar um tempinho para passear na Restinga, andar de mota, conversar bwé, enfim, viver Angola, o sonho da reconstrução e a luta dos que lutam pela democracia.
Estou muiiiiito feliz em voltar. Ainda mais porque vou fazer o que mais gosto: trabalhar com comunicação para o desenvolvimento. Vou ser palestrante da III Conferência da Sociedade Civil angolana, apresentando uma proposta de modelo para a interlocução da sociedade civil com a imprensa nacional e internacional e mídia comunitária. Também vou coordenar os brigadistas na cobertura da conferência.
Ai ai... não dá mais para esperar. Só cantando "Morena de Angola", de Chico Buarque, mesmo, e lembrar do peixe de Benguela e do cacho do coração na Catumbela:
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que a morena cochila
Escutando o cochicho do chocalho?
Será que desperta gingando
E já sai chocalhando pro trabalho?
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que ela tá na cozinha
Guizando a galinha à cabidela?
Será que esqueceu da galinha
E ficou batucando na panela?
Será que no meio da mata
Na moita, morena ainda chocalha?
Será que ela não fica afoita
Pra dançar na chama da batalha?
Morena de Angola que leva
O chocalho amarrado na canela
Passando pelo regimento ela faz requebrar a sentinela
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que quando vai pra cama
Morena se esquece dos chocalhos?
Será que namora fazendo bochincho
Com seus penduricalhos?
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que ela tá caprichando
No peixe que eu trouxe de Benguela?
Será que tá no remelexo
E abandonou meu peixe na tigela?
Será que quando fica choca
Põe de quarentena o seu chocalho?
Será que depois ela bota a canela no nicho do pirralho?
Morela de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Eu acho que deixei um cacho
Do meu coração na Catumbela
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Morena, bichinha danada, minha camarada do MPLA
Malta, estou a chegar! Kandandos!
É muito bom poder voltar a Angola. Há pouco mais de um ano estive por lá, em Luanda, dando um curso de vídeo-participativo. No ano passado, só fiquei na capital angolana. Dessa vez, só vou ficar em Lobito-Benguela, o meu lugar do coração em Angola! Lá vou reencontrar os brigadistas Dino, Isabel, Jesse e Edson, os meus jornalistas comunitários prediletos e a prova mais concreta de que um trabalho sério gera, sim, desenvolvimento, pelo menos do meu ponto de vista (= desenvolvimento como liberdade, o capabilities approach, segundo Amarthya Sen). Lá também vou reencontrar Zeto, amigo que eu adoooooro, visionário, ativista de direitos humanos, e Secre, que é uma doçura de pessoa. Vou reencontrar a equipe do Omunga e da Adra. Vou conhecer a Mirella. Sim, a filha da Suzy, que levou meu nome, conforme já contei no blog. Também vou rever o mar, os mercados de Benguela, os candongueiros, vou tomar galão e comer tosta, vou me encher de pimenta, vou olhar aqueles morros secos, de savana, as casas, as obras da Odebrecht, da Camargo Correia, dos chineses, vou ver o porto seco (ahh, isso vai ser duro), vou ver o porto do Lobito, tentar um tempinho para passear na Restinga, andar de mota, conversar bwé, enfim, viver Angola, o sonho da reconstrução e a luta dos que lutam pela democracia.
Estou muiiiiito feliz em voltar. Ainda mais porque vou fazer o que mais gosto: trabalhar com comunicação para o desenvolvimento. Vou ser palestrante da III Conferência da Sociedade Civil angolana, apresentando uma proposta de modelo para a interlocução da sociedade civil com a imprensa nacional e internacional e mídia comunitária. Também vou coordenar os brigadistas na cobertura da conferência.
Ai ai... não dá mais para esperar. Só cantando "Morena de Angola", de Chico Buarque, mesmo, e lembrar do peixe de Benguela e do cacho do coração na Catumbela:
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que a morena cochila
Escutando o cochicho do chocalho?
Será que desperta gingando
E já sai chocalhando pro trabalho?
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que ela tá na cozinha
Guizando a galinha à cabidela?
Será que esqueceu da galinha
E ficou batucando na panela?
Será que no meio da mata
Na moita, morena ainda chocalha?
Será que ela não fica afoita
Pra dançar na chama da batalha?
Morena de Angola que leva
O chocalho amarrado na canela
Passando pelo regimento ela faz requebrar a sentinela
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que quando vai pra cama
Morena se esquece dos chocalhos?
Será que namora fazendo bochincho
Com seus penduricalhos?
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que ela tá caprichando
No peixe que eu trouxe de Benguela?
Será que tá no remelexo
E abandonou meu peixe na tigela?
Será que quando fica choca
Põe de quarentena o seu chocalho?
Será que depois ela bota a canela no nicho do pirralho?
Morela de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Eu acho que deixei um cacho
Do meu coração na Catumbela
Morena de Angola
Que leva o chocalho
Amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho
Ou chocalho é que mexe com ela?
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Morena, bichinha danada, minha camarada do MPLA
Malta, estou a chegar! Kandandos!
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Saudades do meu povo...
A natureza da África é exuberante. Mas, sem dúvida, o que sempre me atraiu por lá é seu povo e sua cultura. Foi com as pessoas que aprendi a aprender a África, a respeitar, a amar e, acima de tudo, a acreditar que o desenvolvimento é possível. Abaixo, algumas fotos que fiz em Moçambique: em Maputo, Bilene, Beira e Gorongosa.
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