terça-feira, 20 de maio de 2008

Vida de voluntário I

Uma amiga me enviou um email há uns três dias me perguntando sobre como cheguei à África para fazer trabalho voluntário. Só para esclarecer para quem não sabe, fui à África pela primeira vez, mais precisamente para Moçambique, em 2003. Lá trabalhei como voluntária. Dei aulas de inglês e de cidadania em uma escola pública, coordenei um projeto de inserção social para crianças órfãs cujo pelo menos um dos pais morreu em decorrência de HIV/Sida e fui uma espécie de professora, amiga, monitora em um orfanato. Vivi sempre em Beira. Trabalhei lá e também em Dondo.

A pergunta dessa amiga também foi minha pergunta durante anos antes de eu finalmente realizar meu sonho. Como recebo com frequência emails e recados no orkut sobre esse assunto, vou tentar deixar posts neste blog que possam ajudar quem tiver interesse em trabalho voluntário na África.

Abaixo estão os emails que troquei com essa amiga:

"Oi Mi, tudo bem?

Te escrevo porque queria uma dica sua. Vc já ouviu falar de uma organização chamada CCTG - Campus Califórnia TG?

Eles ficam em Etna, extremo norte da Califórnia, e desde 2000 formam voluntários no programa de formação de Instrutores de Desenvolvimento. Após a realização deste curso, que dura 6 meses, os voluntários são enviados para a África para participar de programas ligados à educação e ao controle do HIV, bem como para prestar assistência a crianças em situação de risco. O site deles é
http://www.cctg.org/.

Queria saber se os caras são sérios/confiáveis..."



Minha resposta:
"Já ouvi falar, sim, deles. Aliás, foi com eles que fui voluntária na África, mas meu treinamento foi na Inglaterra.Olha, eu não me arrependo de ter ido, realizei o sonho da minha vida, mas te digo que penei muito com eles. Primeiro porque quase nada do que foi combinado foi cumprido no treinamento na Inglaterra. O "treinamento" é mais um fundraising. Não há pessoas capacitadas para treinarem ninguém. Eu aproveitei o tempo e estudei bastante por minha conta. Por isso que foi proveitoso pra mim. Acho que depende de cada pessoa.É também uma super experiência ter vivido nos confins da Inglaterra, com 40 pessoas, e fazendo todas as tarefas que tive que fazer: ex. cozinhar para essas 40 pessoas. Foi um esquema meio exército, foi difícil, mas aprendi muito.
Na África, aproveitei bastante e desenvolvi um trabalho bem legal. Mas dependeu mais uma vez de minha própria vontade porque o projeto era bem desestruturado e dependia mais de vontade própria do que de qualquer outra coisa. E isso foi uma tristeza enorme porque quando saí, meu projeto não continuou. Mas, enfim, hoje sei que esse problema não é apenas deles, mas de várias outras ONGs que trabalham na África.Também tenho muitas dúvidas quanto à honestidade deles em questões financeiras. Mas, de novo, não é nenhum privilégio deles isso.Eu acho que como última opção eu iria. Mas tenta achar outras coisas. Se não encontrar, vai. O máximo que pode acontecer é você voltar pra casa. Eu quero muito voltar pra África."

2 comentários:

F. disse...

Mirela, da pouca experiência que tenho, te diria que os problemas que você relata ter enfrentado são rotineiros. Expectativas e frustrações, dúvidas sobre honestidade na gestão dos fundos são comuns até em grandes organizações aqui. O importante é o que você disse à sua amiga: depende mais da gente. Em lugar de contar com os outros, é melhor fazer a sua parte, a do outro e de mais uns três. Aí a coisa anda.

lari disse...

Olá Mirela. Descobri o seu blog ao pesquisar sobre voluntariado na Africa. Queria saber como conseguir se voluntariar e se vc conhece a CICD - College for International Cooperation and Developmen, se não for incômodo envie-me informações para o email llarissa.sa@gmail.com.
Desde já agradeço.