Por José Patrocínio
Quando eram cerca das 05H00 da manhã de hoje (hora local), uma equipe da associação OMUNGA constituída pelos brigadistas jornalistas Cecília e Dino e coordenada pelo Patrocínio saiu do Lobito em direcção ao Bocoio, na província de Benguela, em Angola. O objectivo era o de fazer a cobertura das eleições legislativas naquele município da província de Benguela. Localizada a cerca de 70 Km do Lobito, a sede municipal, outrora chamada por Vila Sousa Lara, localiza-se na via que liga o Lobito à cidade do Huambo.
Á medida que se subia o morro do Pundo, o nevoeiro envolvia-nos obrigando a uma viagem cautelosa. Ao longo da estrada iam-se desvendando escolas e outras infra-estruturas adaptadas em Assembleias de Voto. Ao seu redor, viam-se aglomerados de pessoas que ansiavam por exercer o seu direito de votar.
O Bocoio antigo produtor de sisal, é hoje bastante conhecido pelo ananás que abastece os mercados locais. Constituído por 5 comunas, tem uma população estimada em cerca de 123 700 habitantes.
De acordo às informações prestadas no local pelo Director do Gabinete Municipal Eleitoral do Bocoio, foram registados 53 832 eleitores. Foram ainda constituídas 88 Assembleias de Voto comportando um total de 261 Mesas de Voto.
Depois de contactado o Amos (membro da coordenação da Observação Eleitoral da Rede Provincial Eleitoral), contactámos o Gabinete Municipal Eleitoral local para informarmos da nossa presença e dos nossos objectivos
Partimos em seguida para a Assembleia de Voto N.º 09.13.003, onde aguardavam pacientemente eleitores pela hora de votarem. Eram essencialmente pessoas adultas e idosas e não se visualizava grande presença de jovens. As mulheres com os seus lenços mais vistosos e envoltas em seus panos novos, coloriam alegremente o ambiente. Elas eram ali a maioria. E assim também parecia em todas as assembleias pelas quais passámos.
O ambiente era de civismo, não se vendo qualquer agitação partidária nem a presença de forças militares e da polícia.
A Assembleia abriu às horas previstas (07H00) e deu-se prioridade aos idosos, mulheres grávidas e pessoas com necessidades especiais. Deram ainda prioridade às pessoas doentes que vieram do hospital que se localiza a alguns metros dali. Questionado o director do Gabinete Municipal Eleitoral, sobre o facto de não se ter deslocado ao hospital uma equipe móvel conforme estabelecido na lei, respondeu não haver razões concretas para o fazer.
As urnas brancas de tampo azul permitem verificar que estavam vazias e todo o pessoal estava presente, incluindo os observadores nacionais. É de se realçar que pela primeira vez na história de Angola, a sociedade civil participa de forma tão activa e directa num processo eleitoral. Começando nas acções de educação cívica eleitoral e passando pela observação de todo o processo eleitoral. Para o efeito, organizou-se um Observatório Eleitoral. A base de todo o sistema são os observadores que se responsabilizam por acompanhar todo o processo em determinada Assembleia de Voto. Existe ainda um supervisor municipal que visita todas as assembleias de voto onde se encontram os observadores e recebe deles as informações que partilha com a equipe de coordenação provincial ou directamente para Luanda
Enquanto estávamos por aquelas paragens, demos conta do receio de que não seja suficiente o número de boletins de voto. Esta preocupação foi também apresentada por observadores no Lobito o que nos transmite uma preocupação generalizada.
A partira das 10H00 todas as Assembleias estavam sem qualquer afluência de eleitores, deixando as equipes numa visível sonolência. Decidimos regressar.
De regresso ao Lobito, quando eram cerca do meio-dia, com o propósito de podermos divulgar rapidamente as nossas informações, deparámo-nos novamente com uma estrada vazia, sem qualquer movimento de viaturas, reflectindo-nos a ideia de que todos os angolanos dedicaram este dia à escolha do seu futuro.
* José Patrocínio é coordenador da ONG angolana Associação Omunga. Credencial da CNE para cobertura jornalística N.º 11004323
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