sábado, 6 de setembro de 2008

Observadores internacionais e a prepotência européia

Mais uma eleição na África e, mais uma vez, as declarações do chefe da missão de observadores da União Européia mostram aquela prepotência dos que acham que sabem tudo. Confira trechos da matéria publicada pela BBC Brasil:

"A chefe da missão de observadores da União Européia (UE), Luisa Morgantini, que chamou o processo de votação de "desastre" na manhã de sexta-feira, neste sábado adotou uma postura mais cautelosa, segundo a agência de notícias AFP.
"Houve problemas (...) Vamos ver o que acontecerá", afirmou, dizendo que não apresentará o relatório oficial da missão da UE até segunda-feira."

Pessoalmente, acho a missão de observação eleitoral da UE a mais preparada e abrangente entre as missões de observadores eleitorais internacionais. A missão se estabelece no país cerca de dois meses antes das eleições, geralmente observadores são enviados para todas as províncias e é feita uma análise criteriosa e minuciosa da legislação eleitoral. O grande problema a meu ver, no entanto, é que a missão de observadores da UE mantém o caráter prepotente (aquele de quem sabe tudo e é dono da verdade). E eu acho que os chefes das missões, pelo menos nas três eleições que acompanhei mais de perto (Malauí, Moçambique e Angola) são despreparados para falar com a imprensa. Acho no mínimo irresponsável uma chefe de missão usar palavras como "desastre" para definir o processo de votação em Angola, ainda mais se levarmos em conta o histórico do país. E o pior é que a imprensa reproduz todas as bobagens faladas, como verdades absolutas.

Isso me lembra muito o que aconteceu em Moçambique em 2004, quando o chefe da missão de observadores da UE declarou que haveria uma grande possibilidade de fraude nas eleições. A votação e a apuração aconteceram e o cidadão teve de voltar atrás, declarando que as "eleições em Moçambique foram justas, livres e transparentes". Sua primeira declaração, no entanto, foi notícia pelo menos nas seis semanas antes da votação, o que poderia ter causado conflito. E a UE que fala tanto em prevenção de conflito...

Por ser a maior missão de observadores internacionais em Angola e a que lá está por mais tempo, a missão da UE é tida como referencia para a imprensa. Pena que a imprensa está se esquecendo que a plataforma eleitoral contou com o apoio de 2500 observadores nacionais. Gostaria muito de conhecer o parecer desses observadores para poder tirar conclusões. Eu, pessoalmente, acho mais legítima a análise dos observadores angolanos que são em maior número e estiveram presentes em áreas não cobertas por internacionais.

Sim, a observação internacional é importante para legitimar o processo. Não tenho dúvida disso. Os europeus realmente conseguiram fazer de sua missão de observação tornar-se como um selo de qualidade/transparència. Ou seja: o governo que não convida os observadores da UE para observar as eleições de seu país está praticamente fadado a ter as eleições classificadas como ilegítimas. Os que convidam tem que ouvir declarações irresponsáveis. Como eu disse antes, acho a missão da UE interessante. Mas, infelizmente, enquanto os chefes das missões não usarem bom senso e medirem as palavras, fica difícil aguentar o dueto ataque-cautela e a prepotència dos donos da verdade, transparentes, não-corruptos.

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