terça-feira, 22 de julho de 2008

Loucos pelo Brasil - Da série não publicadas 4

A dona de casa Amélia Dinga, de 23 anos, não perde um capítulo da novela “O Clone”. Todos os dias, às 20h30, ela vai ao cinema perto de sua casa, em Beira, para assistir à novela. O cinema funciona em uma espécie de tenda, com cobertura de lona, sustentada por quatro pedaços de bambu. A televisão de 24 polegadas capta a atenção dos espectadores. O dono do cinema aluga a fita de vídeo com os capítulos de “O Clone” por dez mil meticais (cerca de R$ 1,5) e cobra mil meticais (cerca de R$ 0,15) por sessão. A novela é disputada. Sentados em bancos feitos de madeira ou mesmo no chão de terra batida, os espectadores se apertam para não perder nenhum momento.

Para Amélia, a sessão de cinema noturno e sua única diversão. Nada mais merecido para quem levanta todos os dias às 4h30 para fritar biscoitos, que vende durante o dia em um mercado de rua da cidade. Ela tem três filhos, cada um com um pai diferente. As crianças não conhecem seus respectivos pais. Todos fugiram antes dos filhos nascerem. Amélia diz que seu “coração é 100% brasileiro”. Ela sabe muito sobre o Brasil, informações todas obtidas nas novelas. Já ouviu falar de Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro. Seu sonho é visitar o Brasil. Ela só tem uma reclamação. A novela “Terra Speranza” (no Brasil “Esperança”) vai ao ar pela Televisão de Moçambique (TVM ) no mesmo horário que a sessão de cinema começa.

O vendedor José Matabele, de 20 anos, está mais interessado na vinda do cantor e apresentador Netinho de Paula para Moçambique, neste mês, do que na visita do presidente, conhecido aqui como Lula da Silva. O programa de Netinho é transmitido em Maputo pelo canal Miramar, que recebe o sinal da Record. Os programas da Globo e da Record podem ser assistidos em todo país por quem tem tv a cabo. Netinho é um dos muitos artistas brasileiros que fazem sucesso aqui. Na rádio, Sandy & Jr., Leonardo, Falamansa disputam as paradas com Roberto Carlos, Kelly Key e É o Tchan. O Bonde do Tigrão também passa por aqui.

Muitos moçambicanos já imitam o sotaque brasileiro. Influência não só das novelas, mas também dos pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, que está espalhada por todo país. Os moçambicanos adoram Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo. Dizem que torceram para o Brasil na Copa de 2002. As fotos dos jogadores estão estampadas em cadernos escolares, nas camisas, nos chinelos e nas capulanas (cangas), utilizadas pelas mulheres como saia.Nos mercados, leite condensado, balas, frango e leite são brasileiros. E, apesar de o Brasil não ser considerado um dos grandes parceiros comerciais de Moçambique, a rádio anuncia pela manhã o fechamento do dia anterior da Bovespa. É nos mercados também que os moçambicanos podem comprar revistas brasileiras de meses anteriores, como IstoÉ, Caras e Exame. Se atualizam com as noticias e com as fofocas sobre os artistas que fazem novelas.

Um comentário:

Carlos Alberto Jr. disse...

Nada melhor do que conhecer um pedacinho desse Brasil espalhado pelo mundo por meio de um texto delicioso!
Parabéns!