Serginho Groissman recebeu o cantor angolano Yuri no Altas Horas do último sábado. Contei para uma amiga e ela me disse: - "Nooooossa, um angolano? Que diferente!". Claro, ela ficou surpresa que um cantor angolano tivesse sido convidado para o programa do Serginho. Eu não. Afinal, mais de 160 mil das 500 mil pessoas que assinam a Globo Internacional estão em Angola, o país com o maior número de assinaturas do serviço no mundo. A foto abaixo não me deixa negar.
Eu, particularmente, gostei bastante do fato de mais um angolano ter espaço na mídia brasileira. Aliás, estava pensando outro dia que as milhões de viagens do Lula para a África contribuíram para deixar o continente mais presente na nossa imprensa (ou menos ausente, melhor). E eu acho que a tendência é termos cada vez mais espaço para questões africanas, principalmente, na Globo e na Record. A primeira deve isso à Angola, já que a principal receita de assinaturas internacionais vem do país. A segunda não deixa de brigar com a primeira pela liderança nacional e internacional, mas tem também um plus a mais: a Igreja Universal do Reino de Deus, que está em lugares que eu jamais imaginaria, como no Malauí, por exemplo, com direito a programa de rádio, inclusive.
Disso tudo, a coisa que mais me magoa é que ainda conseguimos perder a oportunidade de aprendermos mais sobre os países africanos e suas populações. Um exemplo clássico foi no Altas Horas. Apesar de a apresentação ter sido de Semba, com direito à coreografia (belíssima, diga-se de passagem), as questões dirigidas a Yuri demonstraram perfeitamente nosso grau de ignorância sobre Angola. Mas as respostas de Yuri também não nos ajudaram muito a aprender sobre o país. Uma menina perguntou como os angolanos conseguiam ser felizes mesmo com o país em guerra há nove anos (não me pergunte de onde ela tirou essa info). A resposta de Yuri foi categórica: nós angolanos somos um povo feliz, alegre, estamos reconstruindo nosso país, as eleições estão aí e tal. Daí outro adolescente perguntou: "e como você se sente em relação ao preconceito?". Primeiro, Yuri não sabia de que preconceito o jovem estava falando. Afinal, tenho certeza que o menino que perguntou imaginou a situação de um negro no Brasil (o menino era negro). A pergunta era sobre preconceito racial mesmo, só que em Angola. (provavelmente, o menino deve ter imaginado a sociedade angolana como a nossa, 50% negros e 50% não-negros, de maneira geral). Daí que Yuri solta a máxima dele: "Não falo de preconceito porque não existe preconceito. O branco é igual ao negro". Concordo, mas só com a segunda parte da resposta.
Só para resumir: acho que é próprio do ser humano mesmo imaginar um mundo perfeito! E, para completar, Serginho não fez nenhum comentário, nem tentou explorar nem a pergunta nem a resposta, só para esclarecer o telespectador brasileiro (e o angolano também). No entanto, ele não deixou de dizer que irá a Angola este ano. Também, né, com a grana das assinaturas angolanas da Globo Internacional, acho que o mínimo é que a Globo invista mesmo em programas que promovam o intercâmbio cultural e outros entre Brasil e Angola (e África portuguesa).
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