sexta-feira, 15 de agosto de 2008

De Londres para Johanesburgo - trabalho voluntário

Segue email que escrevi para minha familia e para meus amigos no dia 4 denovembro de 2003, dois meses depois de ter chegado em Beira, Moçambique. Aqui estão minhas primeiras impressões da África, de Johannesburgo, no caso específico, minha primeira parada no continente. Sãoprimeiras impressões e, muitas delas, não valem mais pra mim. Mas acho que vale a pena deixar aqui o registro dessas impressões, principalmente para quem quer trabalhar como voluntário por lá. É sempre bom ler o ponto de vista de quem lá já esteve.
O texto está sem acentos porque o escrevi a partir de um internet café de Beira, cujos computadores eram configurados para o inglês. Estranho em um país de língua portuguesa!

LONDRES - JohAnesburgo - Minha viagem comecou um dia antes do previsto. Isso mesmo. A agencia que vendeu apassagem aerea verificou que a validade do meu bilhete estava errada e, por isso, adiantou em um dia a viagem. E claro que eu so fiquei sabendo disso menos de 24 horas antes de eu viajar. Mas, enfim, deu tudo certo e finalmente embarquei para Johanesburgo, na Africa doSul. Onze horas depois de deixar Londres cheguei na cidade mais rica da Africa e uma das mais perigosas. Viajei com uma >amiga hungara,que hoje mora comigo. Depois da imigracao, e que>comecou o choque cultural. Acho que o choque seria bem menor se eu tivesse vindo direto do Brasil. Mas entre a Europa e a >Africa, a diferenca e muito mais brutal. >Logo na saida da area reservada para passageiros,os h omens >da limpeza fizeram um corredor humano e ficaram nos saudando, enquanto passavamos. Na Africa, ser mulher, branca e gorda (bom, aqui qualquer um e gordo se comparar com a media da populacao) e sinal de riqueza. A impressao que eu tinha era de desembarcar na rodoviaria Tiete depois de um feriado de Carnaval. Todo mundo queria minha mala. Do saguao do aeroporto ate o estacionamento, de onde partia o carro do albergue, a luta foi para salvar a mala. Ja, no carro, portas e janelas fechadas, e vamos la. >Johanesburgo tem ruas limpas e bem pavimentadas. Os pedintes se espalham pelas ruas, eles usam placas para identificarem o que precisam, e sempre estao a espera para o sinal fechar. Voce ja ouviu essa historia? A cidade tem uma organizacao bem parecida com a das grandes cidades latino- americanas. E caotica, perigosa, rica e pobre ao mesmo tempo. Nao conheci muito a cidade. So passei um dia la, e vivi meio como refugiada. O albergue que fiquei oferece transporte de graca ate um shopping center. E foi para ali que fui, ja que nao ia colocar osmeus pes na rua de jeito nenhum sem a companhia de alguem que conhecea cidade. O passeio ao shopping center pode dar uma ideia de quao perigosa Johanesburgo e. Ao inves de propor um lugar mais interessante, esse e o unico destino de graca que o albergue oferece. E shopping center e igual em qualquer lugar do mundo. Tantono aeroporto, quanto no albergue ou no shopping center, a Africa negra quase nao existe. So aparece fazendo servico pesado, e claro,coisa que nem passa pela cabeca de um branco la. Nas vitrines das lojas, nos shopping, os manequins sao brancos. So em uma loja havia manequins negros, mas so os corpos, sem cabeca. Talvez uma mensagem subliminar. Sera que o apartheid acabou? No albergue, o gerente, a recepcionista, o caixa, todos sao brancos. A arrumadeira , o homem que e motorista e pedreiro ao >mesmo tempo, os homens que trabalham na ampliacao do lugar, sao todos negros. Inclusive, o homem meio motorista meio pedreiro nos levou para a rodoviaria para pegarmos o onibus para Maputo, capital de Mocambique, a oito horas de la. Ele nao conseguia olhar para o meu rosto quando eu falava com ele. No albergue, com os brancos funcionarios do alto escalao, o comportamento e o mesmo. (continuação)

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