sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Diminuídos físicos?

A pérola abaixo foi publicada pela Angop. Mostra bem como a sociedade vê os deficientes, como "diminuídos físicos". É lamentável.

"Luanda – Com a aproximação a velocidade cruzeiro da data da realização das segundas eleições legislativas em Angola, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) veio à imprensa explicar os “dez passos” a serem seguidos pelos oito milhões e 300 mil eleitores no dia 5 de Setembro, desde o momento da entrada a saída da assembleia de voto.

O porta-voz da CNE, Adão de Almeida, informou que neste dia estarão disponíveis nas assembleias de voto cabines especiais para eleitores portadores de deficiência, de forma a facilitar o exercício do direito do voto desta franja do eleitorado, acrescentando que elas terão características que permitirão o fácil acesso aos diminuídos físicos..."

Se você está indignado, visite o blog Assim como Você, do jornalista Jairo Marques. Ainda há de haver esperança!

domingo, 24 de agosto de 2008

Mais uma gafe...

Eu acho que acompanhar a cobertura dos Jogos Olímpicos é sempre uma boa oportunidade para dar várias risadas com as gafes cometidas pelos jornalistas e comentaristas. Pois é, cobertura ao vivo não dá para disfarçar.
A última gafe que peguei foi de Álvaro José, da Band, durante a cerimônia de encerramento dos jogos. Não é que ele confundiu a bandeira de Angola com a bandeira da antiga Alemanha Oriental? E ainda teve tempo para demonstrar todo seu conhecimento sobre a queda do muro. Segue uma reprodução:
"É Luciano (do Valle). Olha lá os atletas com a bandeira da antiga Alemanha Oriental. Provavelmente muitos deles pertenciam à Alemanha Oriental antes da queda do muro em 1989." E por aí vai....
Brasil terminou em 23o na classificação geral de medalhas. Angola e Moçambique não conquistaram nenhuma medalha.

A chegada em Maputo - trabalho voluntário II

A chegada em Maputo foi um choque, nao por causa das condicoes da cidade, mas porque todo mundo fala portugues e é muito estranho estar na Africa, tao distante, tao desconhecida, e escutar as pessoas falando a mesma lingua. Os mocambicanos nao apenas falam portugues, mas eles sao loucos pelo Brasil. Eles assistem a novelas brasileiras, escutam musica brasileira, amam Ronaldo, e estao mais do que ansiosos para recepcionarem o cantor Netinho de Paula - e seu um dia de princesa -que tem uma visita prevista a Mocambique em novembro. Seu programa e transmitido aqui aos domingos. Ahhh, eles tambem vao a igreja. E claro, vao a Igreja Universal do Reino de Deus.

Maputo e a capital de Mocambique, com pouco mais de tres milhoes de habitantes. O centro da cidade e bastante limpo se comparado com o padrao nacional. A arquitetura e colonial portuguesa, como em muitas cidades do Brasil. A pobreza, entretanto, da um soco na cara de quem la chega. Ruas pavimentadas so na regiao central. As construcoes portuguesas tambem. A poucos minutos do centro, ruas de terra, casas bem simples feitas de palha e bambu, uma grande favela, mas nao tao aglomerada como as do Brasil. A populacao e carente. Falta tudo.As pessoas vestem-se com roupas bem velhas, surradas, furadas, sujas. So 1/3 das casas em Maputo tem agua tratada e encanada e sistema de esgoto. As criancas brincam na rua enquanto as maes trabalham vendendo frutas, peixe ou biscoitos que fazem em casa. Falta aos mocambicanos informacao sobre higiene e cuidados com a saude. O lixo e jogado na rua, as criancas brincam com ele, e as galinhas se alimentam dele. Depois sao vendidas no mercado e vao de la para a mesa.

Fiquei apenas um dia em Maputo, mas consegui dar uma volta pela cidade, ver alguns murais de arte, ir ao hospital. Enfim,sentir a cidade. Outro fator interessante sao os nomes dados as ruas,muitas deles com alusao a luta pela independencia de Mocambique, em1975, como prca. Da Forca Popular, e outras com referencia a pensadores de esquerda, como av. Karl Marx. Depois da independencia de Mocambique, em 1975, o pais viveu uma guerra civil ate 1992,quando foi assinado um contrato de paz, que vigora ate hoje. A guerra envolveu basicamente duas guerrilhas, que depois viraram partidos politicos: a Frelimo (Frente pela a Libertacao de Mocambique) e aRenamo (Resistencia Nacional de MOcambique). A Frelimo, que governa o pais hoje, tem uma linha ideologica mais voltada para a esquerda. Na guerra civil, inclusive, foi apoiada por Cuba e pela ex-URSS. ARenamo e de direita, teve o apoio da Africa do Sul e dos EUA durantea guerra. (continuação)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

De Londres para Johanesburgo - trabalho voluntário

Segue email que escrevi para minha familia e para meus amigos no dia 4 denovembro de 2003, dois meses depois de ter chegado em Beira, Moçambique. Aqui estão minhas primeiras impressões da África, de Johannesburgo, no caso específico, minha primeira parada no continente. Sãoprimeiras impressões e, muitas delas, não valem mais pra mim. Mas acho que vale a pena deixar aqui o registro dessas impressões, principalmente para quem quer trabalhar como voluntário por lá. É sempre bom ler o ponto de vista de quem lá já esteve.
O texto está sem acentos porque o escrevi a partir de um internet café de Beira, cujos computadores eram configurados para o inglês. Estranho em um país de língua portuguesa!

LONDRES - JohAnesburgo - Minha viagem comecou um dia antes do previsto. Isso mesmo. A agencia que vendeu apassagem aerea verificou que a validade do meu bilhete estava errada e, por isso, adiantou em um dia a viagem. E claro que eu so fiquei sabendo disso menos de 24 horas antes de eu viajar. Mas, enfim, deu tudo certo e finalmente embarquei para Johanesburgo, na Africa doSul. Onze horas depois de deixar Londres cheguei na cidade mais rica da Africa e uma das mais perigosas. Viajei com uma >amiga hungara,que hoje mora comigo. Depois da imigracao, e que>comecou o choque cultural. Acho que o choque seria bem menor se eu tivesse vindo direto do Brasil. Mas entre a Europa e a >Africa, a diferenca e muito mais brutal. >Logo na saida da area reservada para passageiros,os h omens >da limpeza fizeram um corredor humano e ficaram nos saudando, enquanto passavamos. Na Africa, ser mulher, branca e gorda (bom, aqui qualquer um e gordo se comparar com a media da populacao) e sinal de riqueza. A impressao que eu tinha era de desembarcar na rodoviaria Tiete depois de um feriado de Carnaval. Todo mundo queria minha mala. Do saguao do aeroporto ate o estacionamento, de onde partia o carro do albergue, a luta foi para salvar a mala. Ja, no carro, portas e janelas fechadas, e vamos la. >Johanesburgo tem ruas limpas e bem pavimentadas. Os pedintes se espalham pelas ruas, eles usam placas para identificarem o que precisam, e sempre estao a espera para o sinal fechar. Voce ja ouviu essa historia? A cidade tem uma organizacao bem parecida com a das grandes cidades latino- americanas. E caotica, perigosa, rica e pobre ao mesmo tempo. Nao conheci muito a cidade. So passei um dia la, e vivi meio como refugiada. O albergue que fiquei oferece transporte de graca ate um shopping center. E foi para ali que fui, ja que nao ia colocar osmeus pes na rua de jeito nenhum sem a companhia de alguem que conhecea cidade. O passeio ao shopping center pode dar uma ideia de quao perigosa Johanesburgo e. Ao inves de propor um lugar mais interessante, esse e o unico destino de graca que o albergue oferece. E shopping center e igual em qualquer lugar do mundo. Tantono aeroporto, quanto no albergue ou no shopping center, a Africa negra quase nao existe. So aparece fazendo servico pesado, e claro,coisa que nem passa pela cabeca de um branco la. Nas vitrines das lojas, nos shopping, os manequins sao brancos. So em uma loja havia manequins negros, mas so os corpos, sem cabeca. Talvez uma mensagem subliminar. Sera que o apartheid acabou? No albergue, o gerente, a recepcionista, o caixa, todos sao brancos. A arrumadeira , o homem que e motorista e pedreiro ao >mesmo tempo, os homens que trabalham na ampliacao do lugar, sao todos negros. Inclusive, o homem meio motorista meio pedreiro nos levou para a rodoviaria para pegarmos o onibus para Maputo, capital de Mocambique, a oito horas de la. Ele nao conseguia olhar para o meu rosto quando eu falava com ele. No albergue, com os brancos funcionarios do alto escalao, o comportamento e o mesmo. (continuação)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Os primeiros passos de uma voluntária*

Já faz quase um mes que estou na Inglaterra e, para nao perder o vicio, aqui vai meu primeiro diario de bordo. Para relembrar quem ja se esqueceu, cheguei naInglaterra dia 3/3, feriadao de Carnaval. Estou participando de um programa de voluntariado. Fico seis meses aqui, mais seis em Mocambique, e depois mais dois em algum lugar. Achei que iria para aDinamarca, mas talvez vou parar em outro pais. Vivo em Winestead,uma cidade bem minuscula, com muitas fazendas, no nordeste daInglaterra. Mas meu dia aqui nao e monotono. Nem um pouco. Voces vao ver. Minha casa fica numa area bem verde. E no mesmo lugar que a escola. Vivem aqui umas 30 pessoas, oito da minha equipe, e o restante de mais duas equipes. Ou seja: passamos os dias aqui. E uma especie de Big Brother, mas, e muito legal. Por exemplo: cada pessoa tem uma ou mais areas de sua responsabilidade. Sou responsavel por festas (e claro), pela viagem de sobrevivencia que vamos fazer no fim de abril e por fundraising (arrecadacao de fundos para irmos para a Africa). Mas...... minha amiga hungara e>responsavel pela cozinha e pelo menu. Entao, fazemos nossas festinhas ilegais todas as noites e "arrecadamos" quitutes na cozinha - ela tem a chave de la.
Aqui dou aula de portugues para minha equipe todos os dias. E tambem estou estudando frances, uma vez por semana, com uma francesa. Procuro dar as aulas do jeito que >gostaria ter aprendidoingles, espanhol e, principalmente, italiano. E muito gostoso dar aulas. Outra responsabilidade que temos e cozinhar, lavar os pratos e limpar a casa. Tres vezes por semana eu cozinho ou lavo a louca para as 40 pessoas que vivem aqui. Dividimos as tarefas em tres ou quatro pessoas. Sou um desastre. So posso cozinhar massa e brigadeiro. Estouquebrando o galho assim. Outro dia, fiz ate talharine ao forno. Ficou bom, por incrivel que pareca.

Para arrecadar fundos para a viagem para a Africa, os voluntarios tem de elaborar uma revista e vende-la pelas ruas da Europa. Fiz o projeto grafico da ultima revista e editei os textos. Ficou boa. Hoje, acabei de voltar de Liverpool, onde fui vender algumas revistas. Fiz mais dinheiro do que em um mes trabalhando como jornalista. Nao sei se fiquei feliz ou triste. Liverpool e bem legal. Fui ao museu dos Beatles e a um bar no centro da cidade, onde eles tocavam. A cidade e uma daquelas que respiram musica. Ainda esta frio. Hoje devem ter feito uns 12 oC. Quem me conhece bem sabe que eu sou muito calorenta. Aqui tenho que usar no minimo tres blusas. Antes usava duas calcas, mas ja cansei de colocartanta roupa e estou me garantindo so com uma mesmo.

Nesse tempo que estou aqui so tenho uma certeza: a experiencia esta valendo a pena

Qto. a guerra (a invasão do Iraque, em 2003), estou apenas acompanhando as noticias pela internet e pela televisao. Ainda nao e dessa vez que vou a uma guerra. Ainda nao. So ainda, viu, mae! Por aqui esta tudo tranquilo. Mesmo em Liverpool nao parece que o pais esta apoiando a guerra. Ainda nao fui para Londres. Fiz a rota anti-terror Sao Paulo-Amsterda-Humberside. O cachorro da policia quase pulou em cima de mim em Amsterda mas, de resto, tudo deu certo.

Devo ir a Londres no fim do mes. Dai conto para voces como esta o clima la. Bom, por enquanto e isso.

*Email que enviei para amigos no dia 01/04/2003, contando as primeiras experiências sobre meu programa de voluntariado. Como digitei o texto em teclado inglês, não acentuei.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Campanha eleitoral em Angola

Começa hoje a campanha eleitoral para as eleições legislativas angolanas, marcadas para 05/09/08. São dez partidos e quatro coligações na disputa.

Mais uma vez, não custa lembrar: assista ao vídeo "Angola rumo às eleições legislativas", produzidos pela Minibus Media em parceria com a brigada de jornalistas do Omunga, e tire algumas dúvidas sobre o processo eleitoral.

Hoje, a BBC para África publicou matéria sobre o assunto, citando, novamente, matéria produzida sobre "Angola rumo às eleições legislativas".

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Angola na Globo

Serginho Groissman recebeu o cantor angolano Yuri no Altas Horas do último sábado. Contei para uma amiga e ela me disse: - "Nooooossa, um angolano? Que diferente!". Claro, ela ficou surpresa que um cantor angolano tivesse sido convidado para o programa do Serginho. Eu não. Afinal, mais de 160 mil das 500 mil pessoas que assinam a Globo Internacional estão em Angola, o país com o maior número de assinaturas do serviço no mundo. A foto abaixo não me deixa negar.


Eu, particularmente, gostei bastante do fato de mais um angolano ter espaço na mídia brasileira. Aliás, estava pensando outro dia que as milhões de viagens do Lula para a África contribuíram para deixar o continente mais presente na nossa imprensa (ou menos ausente, melhor). E eu acho que a tendência é termos cada vez mais espaço para questões africanas, principalmente, na Globo e na Record. A primeira deve isso à Angola, já que a principal receita de assinaturas internacionais vem do país. A segunda não deixa de brigar com a primeira pela liderança nacional e internacional, mas tem também um plus a mais: a Igreja Universal do Reino de Deus, que está em lugares que eu jamais imaginaria, como no Malauí, por exemplo, com direito a programa de rádio, inclusive.

Disso tudo, a coisa que mais me magoa é que ainda conseguimos perder a oportunidade de aprendermos mais sobre os países africanos e suas populações. Um exemplo clássico foi no Altas Horas. Apesar de a apresentação ter sido de Semba, com direito à coreografia (belíssima, diga-se de passagem), as questões dirigidas a Yuri demonstraram perfeitamente nosso grau de ignorância sobre Angola. Mas as respostas de Yuri também não nos ajudaram muito a aprender sobre o país. Uma menina perguntou como os angolanos conseguiam ser felizes mesmo com o país em guerra há nove anos (não me pergunte de onde ela tirou essa info). A resposta de Yuri foi categórica: nós angolanos somos um povo feliz, alegre, estamos reconstruindo nosso país, as eleições estão aí e tal. Daí outro adolescente perguntou: "e como você se sente em relação ao preconceito?". Primeiro, Yuri não sabia de que preconceito o jovem estava falando. Afinal, tenho certeza que o menino que perguntou imaginou a situação de um negro no Brasil (o menino era negro). A pergunta era sobre preconceito racial mesmo, só que em Angola. (provavelmente, o menino deve ter imaginado a sociedade angolana como a nossa, 50% negros e 50% não-negros, de maneira geral). Daí que Yuri solta a máxima dele: "Não falo de preconceito porque não existe preconceito. O branco é igual ao negro". Concordo, mas só com a segunda parte da resposta.

Só para resumir: acho que é próprio do ser humano mesmo imaginar um mundo perfeito! E, para completar, Serginho não fez nenhum comentário, nem tentou explorar nem a pergunta nem a resposta, só para esclarecer o telespectador brasileiro (e o angolano também). No entanto, ele não deixou de dizer que irá a Angola este ano. Também, né, com a grana das assinaturas angolanas da Globo Internacional, acho que o mínimo é que a Globo invista mesmo em programas que promovam o intercâmbio cultural e outros entre Brasil e Angola (e África portuguesa).