"What a happy day" (= que dia feliz). Foram essas as primeiras palavras que um senhor malauiano disse ao abrir uma caixa de papelão de uns 30cm de comprimento por uns 15cm de altura. Ele retirava uma a uma as barras de chocolate snickers e kit kat que acabara de receber via correio, enviadas na caixa por uma senhora inglesa, que mora em Londres. O senhor não se cansava de repetir: "what a happy day."
Eu estava no deck de um hotelzinho em Nhakata Bay, no norte do Malauí, à beira do lago Malauí. Já passava das 20h. Eu tinha acabado de comer. Naquele dia, em dezembro de 2003, tinha me dado um presente: comi carne depois de um tempão sem ao menos sentir o cheirinho de bife. Na época, a pesca estava proibida no lago. Eu estava passando as férias no Malauí, enquanto morava em Moçambique. Logo depois do jantar, encontrei o senhor do dia feliz. Lembro disso até hoje. A felicidade dele era tamanha, que aquele momento também foi inesquecível para mim. Não me lembro que idade ele tinha, mas posso dizer que era velho. Se não era, pelo menos aparentava ter mais de 70 anos. Sua única fonte de renda eram os chocolates que ele vendia para turistas, principalmente ingleses, que frequentavam o hotelzinho. O lucro era de 100%, já que ganhava os chocolates de uma inglesa.
Ele me contou que tinha de caminhar mais de três horas para chegar ao hotel. Mas valia a pena. Vendia cada barra de chocolate por cerca de três dólares. Em um país onde mais de 50% da população não recebe nem um dólar por dia, esse dinheiro representa uma pequena fortuna. Se para você é pouco, para o senhor é o suficiente para tornar o seu dia feliz.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
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